Segundo o "Sunday Telegraph" , um menino de 14 anos pode tornar-se o transexual mais jovem do mundo. O menino teria sido diagnosticado por médicos como transexual aos 12 anos. Médicos e psiquiatras concluíram que as alegações do menino de pertencer a "um corpo errado" estavam tão profundamente enraizadas que deram início a uma terapia à base de injeções de hormonas, fazendo com que Tim deixasse de entrar na puberdade como menino e começasse a evidenciar características femininas, com o desenvolvimento de seios e mudanças na forma do corpo. Essa seria a primeira parte do tratamento que incluiria, no futuro, uma operação para completar a mudança de sexo. Agora com 14 anos e oficialmente registrada como menina.


Esta notícia, lembrou-me uns discussão tida há cerca de dois anos num fórum, a propósito das diferenças e da confusão que muitas vezes se gera entre conceitos como transexualismo, travestismo, hermafroditismo e homossexualidade. Deixo então, aqui, as diferenças.
Homossexualidade
O termo surgiu no Sec.XIX e passou de pecado para crime, passando por doença, até chegar aos nossos dias como um comportamento natural, embora só nos anos 90 a OMS tenha deixado de a considerar como doença mental e considerado desadequado por parte dos profissionais de saúde que trabalham especificamente com a sexualidade, empregar os termos heterossexual e homossexual para designar pessoas: tais termos devem ficar restritos a comportamentos, já que comportamentos Hetero ou Homo exclusivos, ocupam apenas as extremidades de uma escala de frequência de comportamento bastante vasta.
O termo homossexualidade é utilizado exclusivamente para designar o interesse e a atracção sexual por indivíduos do mesmo sexo, com todas as características desse sexo.
Travestismo
O termo descreve o indivíduo que obtém prazer de caracter sexual em vestir-se com as roupas do sexo oposto ao seu. Há, portanto, homens e mulheres travestis. O fetichismo transvéstico não ocorre necessariamente com todas as roupas usadas, mas pode acontecer apenas com uma ou duas peças. A orientação sexual não tem uma relação directa com o travestismo, de modo que é incorrecto associar o travestismo ao homossexualismo. O travesti aceita bem os seus genitais(morfologicamente normais), que fazem parte do modo como obtém prazer sexual, como algo que o torna uma mulher/um homem diferente e parte do fetiche, ao contrário do Trans. Antigamente, o Travesti restringia-se unicamente a alterações cosméticas no corpo, hoje, mesmo a utilização de hormonas e aplicação localizada de silicone podem estar presentes enquanto variações que, no entanto, não classificam por si só o sujeito como um transexual.
Variantes:
Outros termos foram surgindo para designar subgrupos do Travestismo como por exemplo,
transformismo, aplicada a actores que se vestem com as roupas do sexo oposto durante a apresentação de um espectáculo. Enquanto actores e não havendo nenhum prazer sexual em vestir-se com tais roupas, torna-se uma expressão desadequada não chegando ao travestismo e nem este se enquadraria num diagnóstico de Travestismo. Claro está que, no entanto, o indivíduo pode sentir prazer sexual em vestir-se com as roupas do sexo oposto ao seu, caracterizando fetichismo transvéstico e actuar como actor transformista. Ou seja, as duas coisas podem coexistir.
Drag Queen, da cultura club dos centros urbanos: homens que se vestem de mulheres para sair e se divertirem à noite nos clubes, as Drags Queen retratam mulheres charmosas, chiques e glamorosas, sempre actualizadas diante das últimas tendências da moda feminina.
Cross Dressers, que trajam com as roupas do sexo oposto, de modo elegante, frequentam clubes próprios e assumem-se como heterossexuais.
Transexualismo
Desde os anos 80, o termo transexualidade passa a fazer parte dos distúrbios de identidade de género. Quando utilizamos o termo transexual fazemos referência tanto ao transexual homem para mulher, quanto ao transexual mulher para homem. A caracteristica dominante: O prazer do uso dos próprios genitais está presente em heterossexuais, homossexuais e travestis, os quais não negam ou repudiam o seu sexo, mas está ausente no transexual, independentemente de sua preferência sexual ser hetero ou homo. Eles negam e repudiam o seu sexo genital genético/biológico/anatómico e em relações íntimas, evitam tocar ou serem tocados nos genitais, usando recursos criativos com este propósito. É fundamental destacar a dor e o sofrimento de sentir-se preso a um corpo e situação social não condizente com seu estado emocional, que é constante e persistente, e que evolui na busca da mudança de sexo, passando pelo vestir-se e comportar-se de acordo com o outro, dando sequência a um tratamento hormonal e culminando em uma cirurgia de redesignação sexual, contra conflitos morais, religiosos, sociais, legais, etc..
Podem, no entanto, forjar uma vida de aparências que é preservada à custa de um enorme esforço emocional e frustração, um sentimento de que as pessoas que o rodeiam não o conhecem, pois não conseguem ver sua verdadeira identidade encoberta e mascarada pelo corpo que este não reconhece como adequado à sua identidade sexual. Um dos maiores pesadelos surge com a puberdade- o corpo trai a cada momento o ser emocional que o indivíduo acredita ser e que a partir daí, se afasta cada vez mais do corpo idealizado.O surgimento dos caracteres sexuais secundários, tende a marcar profundamente o adolescente transexual e gera muitas vezes forte angústia, depressão, automutilações e tentativas de suicídio decorrentes da não aceitação do sexo genético/biológico/anatómico. No transexualismo consta a ausência de satisfação sexual e a raridade de contactos sexuais. A terapêutica passa por cirurgia de reatribuição sexual, após um período de hormonoterapia enquanto assume um comportamento social característico do sexo oposto.
Hermafroditismo.
O hermafroditismo é um fenómeno geneticamente determinado durante a formação do embrião in útero, caracterizado pela presença de gónadas masculinas e femininas, possuindo tanto tecido testicular, como, de ovário. Temos ainda o pseudo-hermafroditismo(só um dos genitais é visivel) masculino- estrutura interna masculina igual ao cariotipo e externa feminina, e pseudo-hermafroditismo feminino- estrutura interna feminina (igual ao cariotipo) e externa masculina.
Diagnosticado o quadro clínico de hermafroditismo, é recomendável cirurgia correctiva. A decisão sobre a predominância do sexo interno ou externo deve levar em consideração a ocasião do procedimento cirúrgico corretivo- se este ocorrer durante a infância e antes do indivíduo começar a definir-se dentro dos padrões de masculinidade e feminilidade socialmente impostos, será dada preferência ao sexo cromossómico, adequando a aparência externa ao cariótipo e órgãos internos. Se a cirurgia ocorre em momento mais tardio, deverá predominar o sexo culturalmente aceito pelo indivíduo.
O diagnóstico de hermafroditismo exclui o de transexualismo.
É claro que dispondo de duas categorias (macho e fêmea) podemos analisar o sexo do indivíduo de vários ângulos, com o genético ou cromossómico, o gonádico,o hormonal, o morfológico ou anatómico, o emocional, o cognitivo, o comportamental, o social e o jurídico. Indivíduos com transtorno de identidade de género merecem serem tratados condignamente por uma equipe multidisciplinar que possibilite ao indivíduo aceitar-se como um todo coerente.
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desculpas pela extenção do texto, espero que tenha sido útil.
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Comentários

Sexual and gender confusion are common among teenagers, and so I wonder about the appropriateness of gender-altering surgery upon a boy so young. These issues are, of course, difficult to judge, so I am not saying it is wrong. I just raise the question whether it is right or not. Were he sixteen, or even eighteen, I would have not problem. At 14, however, there are so many hormonal complications. As a doctor, I hope you would understand my point, even if you don't agree with it.
Having a good week? It's too cold here to have a good week. Temps around 0*F with lots of wind. BRRRRRRR!!
Acabei agora mesmo de imprimir para aprender e poder falar com os meus filhos!:)))
Mas ainda assim, Cristina, tu consegues pôr um gajo a pensar em doenças...
Beijinho
pela dignidade.




um abraço.



por ousares quebrar superficialidades.

beijos. muitos.
Alien8 disse…
Fiat lux :)

Beijinho.
Cristina disse…
geoffrey

i understand your point.

it depends on the clinic diagnosis.. if he as an Hermafroditism,
it is important that gender-altering surgery is made before provoke profound disturbance of a person's sense of sexual identity, Individual and family counseling early in gender identity disorder can often help a person get used to his or her biologic sex. This has been shown to reduce later distress. so, as sooner as possible.

If he as a transexualism, a sex-change operation and and the sexual reassignment may be/is an option,but before this treatment is considered, the person will undergo in-depth psychological and psychiatric evaluation and counseling.it's he´s legal decision. so he as to be older..

hope i was clear :)

the week is ok. nothing special :)

big kisse, LY.
Cristina disse…
carlos

ups, é um elogio ou uma critica?? :)

não sei se teve interesse, mas lembro-me da guerra que foi a outra discussão e mesmo assim não sei se ficaram claras as diferenças. confunde-se muito tudo com homossexualidade.

obviamente... estes disturbios não têm directamente a ver com a orientação sexual, que continua a poder ser hetero ou homo ;)

bjinhos
Cristina disse…
Isa

b'noite Princesa, obrigada:)

beijinhos para ti.
Anónimo disse…
É desconcertante perceber que as pessoas continuam a associar estes temas que a Cristina aqui deixou como sendo representativos da homossexualidade.

Os tabus e estigmas continuam porque as pessoas agrarram-se ao facilitismo da rotulagem e não páram para pensar. Se parassem um pouco talvez fosse mais acessível a conversa sobre a sexualidade no seu todo!
A sexualidade continua a ser um bicho papão, com desencontros, divergências e pouca informação.
Por isto e mais que isto acho que a Cristina acaba por prestar serviço público e eu neste momento (como em muitos outros!) gostaria que o seu blogue fosse visitado no minimo por 10 milhões de portugueses!

É obvio que "individuos com transtorno de identidade de género merecem ser tratados condignamente por uma equipe multidisciplinar que possibilite ao individuo aceitar-se como um todo coerente", mas acho que o exemplo do Tim é um caso específico e é aqui que se deve realçar que cada caso é um caso.
É um assunto delicado este da mudança de sexo em tão tenra idade. São decisões que devem ser (SEMPRE) tomadas tendo em conta a prórpia instabilidade psicologica que caracteriza a maioria dos adolescentes ou pre-adolescentes.

Devo acreditar que, no caso do Tim, tudo foi feito com o maior profissionalismo e humanismo que este assunto merece e deve ter, mas é importante que este exemplo não sirva de mau exemplo para outros adolescentes que ao terem conhecimento desta "proeza",começarem a pensar que aquilo que sentem (muitas vezes designada como dismorfobia) não é mais do que um desconforto com o seu próprio corpo e que isso poderá ser resolvido com uma mera mudança de sexo.
Excelente texto, aliás praticamente o primeiro lido hoje, antes ainda dos jornais (isto é um elogio!)
Para quem tenha tempo, estes assuntos já foram filmados centenas de vezes e deixo aqui algumas pistas como esta ou esta ou esta ou ainda esta
Francis disse…
o mundo está muito á frente.

será que ainda é possivel assistirmos a mais um sexo ?
Kaos disse…
Belo texto, bem escrito e esclarecedor, mas também não é novidade para quem vem a este blog. Só pode esperar qualidade.
bjs
Anónimo disse…
Qual crítica? Imprimi mesmo para aprender! Sou old fashion nestas coisas, a sério, fiquei no tempo em nada disto se falava ou equacionava.
Beijinho
astrid disse…
Não percebi que fosse metáfora.Enfim!
Mas é importante clarificar , onde a ignorância (incluo-me) por vezes confunde.
Valeu!
beijocas
Gi disse…
5 estrelas Cris. Quem tiver dúvidas tira-as com o teu texto.
Um beijinho e xi apertado
Cristina disse…
Fado

obrigada!! :)dos filmes que deixaste só vi o primeiro que é uma delicia...:))

aí está um exemplo de Disforia de Género circunstancial de que falava da resposta acima ;)

beijocas
Cristina disse…
Dalloway
obrigada pelo elogio exagerado, claro. :)

quanto aos tratamentos, como disse ao geoffrey, se se trata de hermafroditismo, a resolução deve ser o mais precoce possível no sentido de evidar duvidas na identificação numa altura em que se formam os caracteres sexuais secundarios.
se se trata de transsexualismo, habitualmente a decisão é mais tardia porque tem que ser o proprio a assumir legalmente a mudança após longo período de segumento. neste caso, suponho que a situação estaria a ser de tal modo perturbadora para o doente que decidiram mais cedo...

as perturbações da adolescência de que fala, talvez caibam nas disforias de género, de que não falei por o texto ja estar demasiado longo, mas que incluem rejeição do proprio genero sexual em circunstancias ou contexto determinados, e só.

um beijinho :)
Cristina disse…
Francis

duvido...resolvia-se tudo, se fossemos como os caracóis..:)

bjinhos
Cristina disse…
Kaos
não me embaraces...:p

beijinhos
Cristina disse…
carlos

entre os 80 e os 100 anos? quem diria ;)
Cristina disse…
harry

viste isso tudo neste texto??? só surpresas...


beijinhos
Cristina disse…
halisse
eu também não percebi, mas o Fernando é um rapaz imaginativo...:p

beijos, obrigada
Cristina disse…
gi

espero que tenha sido útil:)

obrigada, beijos e xiiis pra ti também ;)

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