sobre eleições, vem do baú
do saudoso Club dos Terríveis este fantástico
Se meu baixo clero votasse
O amigo já imaginou se a Igreja Católica em vez de uma teocracia, fosse uma democracia, ou melhor, já que estamos falando de ovelhas: uma ovinocracia? Se o rebanho tivesse conquistado (com procissões históricas) o direito de escolher um novo Papa por sufrágio universal? O pleito poderia se dar pelo sistema brazuca: uma cabeça baptizada, um voto. Não importa se o sujeito é crismado, coroinha, tonsado ou carola, se sabe ou não recitar o Credo, se liga djá para o Walter Mercado ou faz despacho, de quando em vez. Baptizados em criança, todos seriam iguais perante a sacrossanta urna.
Já pelo american way, a coisa seria um poquito más complicada: o eleitor teria que possuir um green-card bento. Haveria uma espécie de voto paroquial misto, via cartão perfurado, com a escolha de um clero eleitoral, que iria para uma votação indireta diocesiana, que seguiria para a escolha arqui-indireta arquidiocesiana, e assim por diante - até sobrar um felizardo, saudado com um mega-show de fogos de artifício (no lugar daquela fumacinha muxiba) e com o povo cheio de bottoms e bandeirolas, gritando em S. Pedro Square: “We have a Pope!”.
Seja qual fosse o sistema, a barulheira seria grande. A polémica começaria na distribuição de santinhos. Os candidatos disputariam a tapa a aliança com os ditos-cujos: “Cardeal Noël ganha apoio de S. Nicolau de presente”; “São Sebastião é Cardeal Margarida - por um papado alegre.”; “Candidato Azarão Dom Barrichelotto ganha apoio de S. Judas Tadeu e tem fé na virada”; “Santo Expedito é Enééééas!”. Como, minha senhora? O Enéas? Sim, sim, pelo Direito Canônico, qualquer católico pode ser eleito Sumo Pontífice, basta “ser hômi com pleno uso da razão”. O que, pensando bem, poderia impugnar o barbudo careca. (Além de cortar as asinhas de todas as papisáveis, para cólera das sufragettes: fica para o próximo século, OK?)
Haveria tudo o que uma campanha qualquer tem direito: muito conto do vigário, distribuição eleitoreira de indulgências, tentativas arbitrárias de excomunhão contra adversários, propaganda irregular em campanários, revelação de segredos de sacristia, uso desregrado de Photoshop (até sob a batina) e aquelas vinhetas de TV, com o os candidatos segurando criancinhas e visitando obras de novas igrejas, com o rosto suado de tanto ministério. Além de promessas miraculosas. Pesquisas eleitorais seriam usadas só para “consumo interno”, como segredo de confessionário.
No dia da grande eleição, a segurança em paróquias conturbadas seria garantida pela Guarda Suíça, com trajes medievais e tudo (vale o apoio dos Dragões da Independência). Durante a apuração, não faltariam denúncias de fenómenos como a multiplicação de votos. A Justiça Canónica, no entanto, lavaria as mãos. Ao final das contas, consummatum est.
E quem não gostasse que fosse reclamar ao bispo.
Se meu baixo clero votasse
O amigo já imaginou se a Igreja Católica em vez de uma teocracia, fosse uma democracia, ou melhor, já que estamos falando de ovelhas: uma ovinocracia? Se o rebanho tivesse conquistado (com procissões históricas) o direito de escolher um novo Papa por sufrágio universal? O pleito poderia se dar pelo sistema brazuca: uma cabeça baptizada, um voto. Não importa se o sujeito é crismado, coroinha, tonsado ou carola, se sabe ou não recitar o Credo, se liga djá para o Walter Mercado ou faz despacho, de quando em vez. Baptizados em criança, todos seriam iguais perante a sacrossanta urna.
Já pelo american way, a coisa seria um poquito más complicada: o eleitor teria que possuir um green-card bento. Haveria uma espécie de voto paroquial misto, via cartão perfurado, com a escolha de um clero eleitoral, que iria para uma votação indireta diocesiana, que seguiria para a escolha arqui-indireta arquidiocesiana, e assim por diante - até sobrar um felizardo, saudado com um mega-show de fogos de artifício (no lugar daquela fumacinha muxiba) e com o povo cheio de bottoms e bandeirolas, gritando em S. Pedro Square: “We have a Pope!”.
Seja qual fosse o sistema, a barulheira seria grande. A polémica começaria na distribuição de santinhos. Os candidatos disputariam a tapa a aliança com os ditos-cujos: “Cardeal Noël ganha apoio de S. Nicolau de presente”; “São Sebastião é Cardeal Margarida - por um papado alegre.”; “Candidato Azarão Dom Barrichelotto ganha apoio de S. Judas Tadeu e tem fé na virada”; “Santo Expedito é Enééééas!”. Como, minha senhora? O Enéas? Sim, sim, pelo Direito Canônico, qualquer católico pode ser eleito Sumo Pontífice, basta “ser hômi com pleno uso da razão”. O que, pensando bem, poderia impugnar o barbudo careca. (Além de cortar as asinhas de todas as papisáveis, para cólera das sufragettes: fica para o próximo século, OK?)
Haveria tudo o que uma campanha qualquer tem direito: muito conto do vigário, distribuição eleitoreira de indulgências, tentativas arbitrárias de excomunhão contra adversários, propaganda irregular em campanários, revelação de segredos de sacristia, uso desregrado de Photoshop (até sob a batina) e aquelas vinhetas de TV, com o os candidatos segurando criancinhas e visitando obras de novas igrejas, com o rosto suado de tanto ministério. Além de promessas miraculosas. Pesquisas eleitorais seriam usadas só para “consumo interno”, como segredo de confessionário.
No dia da grande eleição, a segurança em paróquias conturbadas seria garantida pela Guarda Suíça, com trajes medievais e tudo (vale o apoio dos Dragões da Independência). Durante a apuração, não faltariam denúncias de fenómenos como a multiplicação de votos. A Justiça Canónica, no entanto, lavaria as mãos. Ao final das contas, consummatum est.
E quem não gostasse que fosse reclamar ao bispo.
Comentários