maus fígados


Desde há uns meses para cá, na verdade nos últimos anos, há uma constatação que me tem deixado triste e preocupada; o brutal aumento do consumo de álcool na malta nova e particularmente nos mais diferenciados. Não consultei estatísticas, não sei se são dados oficiais, mas sei o que vejo e na última semana tive dois casos. Primeiro, um indivíduo de 30 anos, advogado, pelo que me disse o pai um aluno de excelentes notas, daqueles que fazem parte de todas as associações, da tuna, vivaço, giraço, cheio de amigos, com várias propostas de trabalho. Entrou a primeira vez em coma alcoólico. Bebia 1 a 2 garrafas de whisky por dia . Conversei longamente com ele, disse-me que eram as saídas, que sabia que estava a estragar a vida, que tudo ía mudar e correr bem, mentira. Passados 15 dias voltou a entrar num estado deplorável, com uma pancreatite alcoólica grave. Após a alta, não o voltei a ver.
O segundo, um engenheiro de 35 anos, ainda internado. Segundo a família com uma boa carreira profissional, inexplicavelmente começou há 2 anos a beber e progressivamente a descurar a profissão e a família. Foi encontrado várias vezes na rua alcoolizado e também agora, foi trazido ao hospital depois de encontrado caído num beco, em coma.
Estes são 2 casos de internamento mas, as consultas estão cheios de indivíduos novos, diferenciados, com problemas sérios de dependência e para já, com as vidas em stand by.
Se no caso dos estratos sociais mais baixos até posso entender que o álcool seja um amigo que preenche a falta de tudo, que diabo se passa na cabeça de pessoas que tinham condições para chegar onde quisessem, deitar tudo a perder e entregar-se de corpo e alma a uma vida sem honra nem glória?

Comentários

Su disse…
..é pq qdo damos conta, já estamos viciados....
jocas
Pêndulo disse…
Infelizmente tenho um amigo que se perdeu assim, no caso dele foi pior por ter começado com álcool e ter ido por aí fora. Era de todos nós o que aguentava melhor a bebida. Tinha um bom emprego, casou com a mulher que amava desde jovem e tudo se foi. Após uma cura teve nova hipótese, utro emprego, pior mas seguro. Durante anos andou bem. Saá com ele duas a três vezes por semana para tomar café à noite. Tinha um novo grupo de amigos que não tinha acompanhado a decadência anterior, apenas eu e mais um ou dois. Aos poucos começou nos jantares, primeiro a cheirar, depois a provar e, por fim, a beber como eu. De repente pedidos de dinheiro, pagou dentro do prazo e desapareceu. Soube que está ou esteve em Espanha para mais uma cura. Não o vejo há uns três anos.
Cristina disse…
su
começa-se com a bebida social e vai por aí fora até beber sozinho e às 'escondidas'
beijinho
Cristina disse…
pêndulo

isso facilita, acham sempre que são eternamente super homens.
mas faz-me aflição como é que pessoas inteligentes e sem grandes descalabros sociais se entregam, porque na fase de que falei, já assumiram que não vão lutar.

beijinho
já viste a explicação da parésia??
Unknown disse…
Debate interessante, e que tem pano para fatos completos Armani, ou o que quiserems

Não fazendo juizos de valor, eu diria que esta - o alccól - é uma das vias na procura de um escape à rotina do dia-a-dia!

Há outras mais saudáveis... ou nem tanto, como são o exemplo dos Fight Club que vão surgindo e dirigidos para este público diferenciado, com poder de compra e estabelecido.

Outros há viciados na adrenalina ao fim de semana. Seja a fazer queda livre, rappel, ou paitball...

money is not an issue!
Pêndulo disse…
Já vi sim. O "flácido" estava a fazer-me confusão. Agora é "hemiplegia" , "hemi" quer dizer "metade" continuo a achar difícil eh eh eh.

Qualquer dia começo a fazer-te perguntas sobre colesterol e Zarator ;)( e sou banido daqui lololol)

No caso em apreço foi o que disseste, "eu é que sou forte, eu aguento, eu tenho de o provar", depois intala-se o vício. Curiosamente hoje tenho o emprego que ele tinha
nana disse…
é uma anestesia barata e socialmente(demasiado) bem aceite!
O mal-estar não tem, necessariamente, a ver com a conta bancária!
;)
Pêndulo disse…
Não é só socialmente aceite, é quase imposta.
Cristina disse…
desi
mas se torna ele mesmo uma rotina...

apesar de tudo não tem comparação com os outros...é uma forma de dependência como qualquer outra droga, só tem a diferença de ser ESTIMULADA pela sociedade, mais! uma pessoa em recuperação (que não beba NADA) acaba por deixar de sair...há sempre uma alma caridosa que diz 'vá lá, um dia não são dias' :(
Cristina disse…
pêndulo

loool
não é difícil, não! há enervação suficiente, além disso uma grande parte têm um predomínio braquial..

podes fazer perguntar o que quiseres, assim como assim vou treinando, que os gajos das aulas práticas devem estar a chegar :)
Pêndulo disse…
Fiquei enervado com o "pedomínio braquial" ;)

Quanto ao não sair discordo. Saía muitas vezes com esse amigo, eu bebia e ele não e nunca hove problema. A iniciativa partiu dele. Tinha, nessa altura, no grupo outro que não bebia por isso não te dou a minha anuência.
Não dou , não dou e não dou, Pronto !

Enervei-me com a minha ignorância.
Cristina disse…
pêndulo

pois eu discordo da discordância!!
conheço muitos que me dizem isso mesmo, que deixaram de sair porque os amigos não respeitam...e insistem para beber 'só um golinho', dizem 'és um chato', 'deixa-te lá de mariquices', e outros "insentivos"
acabam por se sentir pressionados!


predomínio braquial significa uma parésia mais da metade superior que da inferior dentro da hemi..:)))
Pêndulo disse…
AAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH, o homem não revirava ozolhinhos mas o resto estava bem.

Por vezes o que dizes acontece por o próprio não dizer claramente o que tem. No caso do meu amigo aconteceu com alguns conhecimentos mais recentes. Isso pode ter contribuído sim.
Dou-te um cadinho pucanininho de concordância, mas é mesmo só um bocadinho antes que fiques ufana.
:p
Indivíduo disse…
Como já alguém aqui disse, não é so a conta bancária que provoca desilusões. Mesmo com bons empregos e tudo mais, pode e muitas vezes falta sempre algo mais, falta sempre aquela pequena coisa que nos pode levar a mergulhar num abismo, é nesses momentos que nos devemos controlar e pensar se vale mesmo a pena...
Cristina disse…
pêndolo

looooooooool
cadinho pucanininho? tá bem, desde que não se repita:))
é o que faz bocezes serem tão amigos uns dos outros:(
Cristina disse…
genlemen

estas personalidades são todas muito parecidas, não sei se viste um post (5/jul) em que um tipo me dizia: eu sou como os rinocerontes...aponto os cornos ao abismo é vou em frente!

é assim!


beijinhos:)
Unknown disse…
Mais um copo para a discussão. Não sou sociólogo, e nem nada que se pareça, sou apenas mais um...

À parte daqueles que se deixam levar pela tal discipla do anda lá só um copo não faz mal - isso é, para mim uma falta de respeito por quem sabe dizer não. Esta (e outras do mesmo género) é uma questão social.

Na rotina do dia-a-dia há uma série de imposições, pagar contas, ser um empresário de sucesso, a pressão excessiva para constantes decisões... etc, etc, etc. Já que é onde esta discussão se centra, em pessoas diferenciadas, com cultura, formação e bem colocadas na vida. Supostamente com êxito.

Uma vivenda com piscina nos subúrbios, um monovolume, mais um descaptável para os domingos, uma casa na praia... etc...

Para qualquer pessoa é preciso relaxar, descontrair, não pensar no trabalho... há quem beba para esquecer as desgraças, mas nestes casos bebe-se não porque era a única hipótese, mas porque foi a mais fácil... digo eu!

Há um filme em que o personagem principal começa a dizer, escolha isto, escolha aquilo... e continua, até que pergunta ao espectador, porque é que haveria de escolher aquilo tudo, quando pode seguir uma via mais simples, e deixar de ter de fazer escolhas?

Não é o melhor escape... mas...
Cristina disse…
voudaquiparaali

é mesmo
aquele advogado, quando dei de caras com ele a 2ª vez, só me apetecia chorar! e bater-le!
estava horrível....parecia um indigente, esfolado das quedas...enfim!

beijinho
Pêndulo disse…
Trainspotting- filme que adorei.
Pêndulo disse…
Só para vincar:
Trainspotting e não Treino do Sporting !
Unknown disse…
Exacto pêndulo, mas o tema do filme pode ser o que quiseres, não tem de ser sobre heroína...
Unknown disse…
loooooooool :O)))))))
Cristina disse…
desi

não estes não bebem para esquecer nada, começa como uma coisa social,acaba por ser o elo de ligação das conversas, depois é como os cigarros, se não pegares num copo, o que é que fazes às mãos? :), depois uma necessidade fisica e depois acabas a pensar que não podes estar sem uma garrafa em casa, sem duas, sem três e só pensas nisso.:(

ps- mudei o tratamento, posso?
Cristina disse…
pêndulo
não vi, mas apesar de tudo, são mundos um pouco diferentes, o mundo da droga/violência/crime
não se verifica muito aqui :)
Unknown disse…
Para mim bebem para descomprimir, não para esquecer... quando digo para esquecer, neste caso, é para relaxar de mais um dia estafante de trabalho, igual a tantos outros.

Pode começar, realmente pode ser uma atitude social, mas é constítuido por um grupo onde estão todos na mesma situação. Provavelmente colegas de trabalho, em que tudo começa por desafio... tipo és um menino, não aguentas um shot de whisky e um de vodaka seguido... os verdadeiros yuppies!

E no dia seguinte estão todos a trabalhar como nada se passasse, excepto o patrocínio Red Bull para aguentar mais uma sessão de bolsa, ou outra coisa qualquer...

Sessões de copofonia que são repetidas vezes sem conta... e que terminam invaravelmente da mesma forma...

Se calhar o que aconteceu com o paciente que apareceu no seu local de trabalho, foi isto mesmo... mais uma sessão de copofonia levada ao extremo!

P.S.: Claro que sim, nem é necessário pedir! :O)))
Unknown disse…
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Cristina disse…
António

obrigada por essa visão mais contextualizada socialmente, que acontece, mas o que nos deixa desarmados (ou não) é a dependência aparecer sem nenhum contexto que o faça prever, desses que referes. é vício puro e duro, na sequencia de um hábito social.
muitas vezes com famílias impecáveis, que apoiam, que gostam e que se sentem impotentes, de resto, como as outras drogas:)

chega uma fase, que não há projectos que lhe valham.

beijinho
Cristina disse…
desi

falaste de sessões de copofonia.

sabes que nos países do norte da europa, se bebe mais que aqui?
só que têm uma forma diferente de beber, ou seja, durante a semana portam-se muito bem e ao fim de semana bebem até caír:). estes indivíduos raramente fazem sindromes de abstinencia!!!!
a intoxicação é aguda e passa.
a dependencia é dada pelo consumo continuado ainda que seja em menos quantidade.
é curioso que já tenho tido individuos internados por outros motivos, que não contam hábitos alcoólicos significativos e que ao 2º dia estão a tremer e a ver bichos a voar :)

estes ainda não sabem que são alcoolicos, nem o admitem, porque não se embebedam.

a ideia de que OS ALCOÓLICOS SÃO BÊBADOS É UM ERRO tremendo e favorece a progressão da doença até à fase em que são, de facto bêbados:

:)
Unknown disse…
Riquita,
beijinhos, bom fim de semana e até segunda!
Pêndulo disse…
Exactamente Riquita, foi o caso do meu amigo, devo tê-lo visto embriagado umas duas vezes e sou amigo dele desde os 14 anos. Claro que depois vi meio tonto mas já estava viciado e foi bastantes anos depois. Chegou a levar-me a casa.
Outra coisa, vou deixar de vir a este blog, fui tomar café com um casal em que ela é enfermeira, levei com as hemiparésias todas e até com as hemiplegias. Raio do blog, ficou com dois inimigos, eu e o marido além dos que assistiram.
Unknown disse…
Pois...

mas também sabes que no norte da europa para comprar alcóol etílico é necessária receita médica! Isto porque eles "emborcam" tudo o que contém alcóol... e nesta lista estão incluídos, pasme-se, perfumes! Portantos, se isso é mais saudável... com licença, mas vou virar um frasco de Gant Soho que esta ali a rir-se para mim! :)))

Também o sistema de saúde no norte da europa funciona de outra forma, e provavelmente, se alguém der entrada em coma alcoólico, provavelmente irá ter acompanhamento de um psicologo ao longo de muito tempo... e aqui o que acontece? São os próprios médicos que fazem esse papel, não sendo obrigados a, e não havendo continuidade. Julgo eu, mas esta realidade em conheço muito mal, e não quero estar a cair em erro.
Cristina disse…
pêndulo
não faças isso, credo, não falo mais dessas coisas looool.

falaram disso? não é grande conversa para café! (plegia é a fase flácia da parésia)

:))
Cristina disse…
desi

:))também fui buscar uma bebida..

aqui o que se faz é encaminhar o doente (via psiquiatria) para uma consulta de alcoolismo:)

sabes que eu um dia vi uma doente na consulta de alcoolismo que injectava alcool puro? incrível!:)
Pêndulo disse…
E tu a dar no flácido. Porra, isso é uma tentativa de nos fazer pensar na idade ?
Já basta o meu médico. ;)

O gajo cobra-me uma consulta só para me receitar o medicamento mas eu troquei.lhe as voltas, disse-lhe para receitar quatro caixas. eh eh eh
Cristina disse…
antónio

as condições socialmente aceites como suficientes para alguém se sentir 'feliz', uma familia, um curso, uma profissão, dinheiro, amigos,que mais se pode desejar?

pedir mais, já é inventar...há gente com muuuito menos que não entra por estes caminhos, há outros que sim, enfim aquilo que eu tenho estado a dizer é que há um percurso PROPRIO que leva à dependência, independente das condições.
sei que não concordas mas já sabes que eu tenho um jeito especial para separar tudo lool:)
Cristina disse…
pêndolo

pá, não falo mais nisso, prontos, não vá alguém enfiar a carapuça :O)

que ganda ciganice....como é que o homem compra as prendas de Natal? a vida custa a todos...
Pêndulo disse…
Passa-me uma receita ? Está a cabar a última caixa e numpetece ir lá.
Olha, manda por net ou e-mail lolololol
Pago-te meia consulta. ;)
(esse "Riquita" é cigno por parte de mãe ou de pai ? )
:p
Pêndulo disse…
Eu e esse tal amigo tivemos o mesmo meio excluindo o familiar.
As razões são difíceis de determinar, é todo um caldo em que se divisa uma ou outra couve a boiar mas que por si só não faz a sopa.
Cristina disse…
pêndolo

pois são, nada lineares:) no fundo penso que têm a ver com a estrutura da personalidade de cada pessoa, das suas fragilidades.

bj
Cristina disse…
António obrigada a ti também

até amanhã :)
teresa.com disse…
Deus sabe como gostava de perceber este problema!... Acho que é escusado encontrar uma causa única ou um motivo mais válido do que outro... é realmente imprevisível e às vezes, incontrolável... E quando se percebe qual o motivo, pouco ou nada se altera, apenas se exige a nossa simpatia pela causa... é de facto um assunto infinitamente discutível!
Cristina disse…
boleia

ou mesmo um 'não motivo'. não é preciso justificar tudo..acontece e há que unir energias para figir deste polvo que tende a deixar muito pouco espaço de manobra:)

beijinho.
Unknown disse…
não li os comentários anteriores, são muitos e tou sem pachorra.

mas...


quero dizer que durante 3 anos da minha vida, bebi quase todos os dias. grandes borracheiras de caixão à cova... sem grande razão, só porque sim, dei conta que já não conseguia sair de casa para fazer outra coisa qualquer.. copos, copos e mais copos.

até que um dia, sem me aperceber, fui deixando de beber, deixando...

e voltei ao normal, como qualquer tipo solteiro na casa dos vinte. bebo apenas ao fim de semana, apenas uma cervejita, ou assim. às vezes, quando a conversa está animada, posso apanhar um pifo, mas contam-se pelos dedos os pifod que apanho num ano.

o que me fez mudar??

não sei. talvez vontade de trabalhar...

onde queria chegar: não há razões para coisa alguma. quer a minha fase de pura estupidez, quer a lucidez que ganhei, aconteceram sem que houvesse um motivo válido para tal. a nossa mente sabe tanto acerca de nós, mas nós sabemos tão pouco acerca dela...

termino apenas dizendo que os tipos são uns fracos!!! nunca entrei em coma alcoólico, nem quando mamava 3 garrafas de jameson ao dia!!!

ps: isto foi um pequeno àparte para amenizar a questão, apesar de ser verdade...
Cristina disse…
bandinho
desculpa só agora cá vir...
já disse por aí que muitas vezes não é necessário um motivo, é um vicio que se instala prograssivamente e quando dás por isso, ou te entregas ou tens a força suficiente e o autodominio para parar!
e, espero não escandalizar ninguém, mas pelo que tenho visto, nem tem muito a ver com as ajudas externas, tem a ver essencialmente contigo, com o teu QUERER porque ninguém pode 'policiar' ninguém o tempo inteiro. às vezes é uma perfeita ilusão pensar que se pode arrancar alguém a uma dependencia, por isso há altos niveis de reincidencia, são os que de facto, não querem.:)

o mérito é teu, ganhaste essa guerra:))

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