20 anos
Decorriam os anos 80, tempo de faculdade. Lembro-me dele como um indivíduo simpático, educado, daquelas pessoas com quem estabelecemos rapidamente uma empatia difícil de explicar. Este guineense, tinha feito o curso de Teologia em Portugal e movido pela sempre presente preocupação com os outros tinha decidido ser médico, na esperança de um dia poder exercer a profissão na sua terra. No entanto, à medida que foi tendo mais contacto com a comunidade guineense residente em Portugal, a constatação das condições precárias e às vezes dramáticas em que muitos deles viviam, alterou definitivamente a rota previamente traçada. Tinhamo-nos entretanto tornado amigos e discutíamos frequentemente eventuais formas de apoio a esta gente. Um dia, chegou ao pé mim com a expressão grave de quem tinha tomado uma difícil decisão, vou deixar o curso, a comunidade precisa de mim; falei com um grupo de guineenses, vou fundar uma associação de solidariedade social, vai ser preciso trabalhar muito, dedicar-me a sério e isso não é compatível com a faculdade. Na altura, fiquei apreensiva, tens a certeza? -absoluta e quero que participes, tu podes ajudar. Aceitei sem hesitar. A partir daí, foram dias e dias a pensar, a contactar, a divulgar, a instalar uma espécie de escritório em casa dele (ainda me lembro da mobília oferecida por uma instituição bancária...), papeladas e e burocracias até que ficou tudo pronto a funcionar. Desde essa altura, a vida deste ser humano incrível foi preenchida entre a luta pela legalização de imigrantes e melhoria das condições de vida no apoio social propriamente dito. Uma luta feroz, sem tréguas, chateando tudo e todos até à exaustão, tornando-se muitas vezes indesejado pela persistência, mas sem nunca desistir de pressionar instituições, partidos, governantes, todos onde conseguia chegar na tentativa de resolver os problemas dramáticos de pessoas que pouco mais tinham que nada. Das suas mãos (com a ajuda do grupo inicial, mas a maioria das vezes sozinho) saíram projectos acolhimento, de formação, de distribuição de alimentos, de apoio médico, jurídico, etc.
Lembro-me como se fosse hoje de entrar em sua casa e ver gente por todo o lado, gente que acabava de chegar a Portugal sem nada e que ali permanecia até se encontrar um centro de acolhimento, uma casa que sempre pertenceu mais aos outros que a ele próprio. O crescimento da associação foi vertiginoso, fruto do reconhecimento dos seus protegidos e da visibilidade que foi adquirindo no meio político, tendo mesmo chegado a ser o primeiro deputado a representar as minorias na Assembleia da República. Hoje, ao fim destes anos, a Aguinenso continua o seu trabalho de apoio a quantos a procuram não se limitando à comunidade guineense, mas a todos os imigrantes que necessitarem de ajuda.
A história da associação e deste Homem que dedicou uma vida ao seu semelhante, vem a propósito da aprovação pela Assembleia da República das alterações à Lei da Nacionalidade. A luta do Fernando Ka, que foi fundamental e muitas vezes decisiva para a sobrevivência de milhares de famílias, no que respeita à tentativa de integração social esbarrou sempre em condicionalismos de origem legal que não permitiam a integração plena e que foi motivo de vários movimentos de pressão de várias associações no sentido, por exemplo, do recenseamento e da legalização. Foi pena que os vários governos tenham levado 20 anos a dar outros passos importantes para colocar em igualdade de direitos pessoas que são tão portuguesas como nós.
De acordo com o programa, ao nível da imigração, o Executivo procurará dar igualdade de tratamento, particularmente nos domínios social e laboral, criar mecanismos de protecção social mínima para cidadãos estrangeiros que tenham perdido o seu emprego e reforçar a participação dos imigrantes na vida política, designadamente através da participação nas eleições autárquicas, após um período de permanência no território nacional .
De acordo, mas 20 anos, é demais.
Lembro-me como se fosse hoje de entrar em sua casa e ver gente por todo o lado, gente que acabava de chegar a Portugal sem nada e que ali permanecia até se encontrar um centro de acolhimento, uma casa que sempre pertenceu mais aos outros que a ele próprio. O crescimento da associação foi vertiginoso, fruto do reconhecimento dos seus protegidos e da visibilidade que foi adquirindo no meio político, tendo mesmo chegado a ser o primeiro deputado a representar as minorias na Assembleia da República. Hoje, ao fim destes anos, a Aguinenso continua o seu trabalho de apoio a quantos a procuram não se limitando à comunidade guineense, mas a todos os imigrantes que necessitarem de ajuda.
A história da associação e deste Homem que dedicou uma vida ao seu semelhante, vem a propósito da aprovação pela Assembleia da República das alterações à Lei da Nacionalidade. A luta do Fernando Ka, que foi fundamental e muitas vezes decisiva para a sobrevivência de milhares de famílias, no que respeita à tentativa de integração social esbarrou sempre em condicionalismos de origem legal que não permitiam a integração plena e que foi motivo de vários movimentos de pressão de várias associações no sentido, por exemplo, do recenseamento e da legalização. Foi pena que os vários governos tenham levado 20 anos a dar outros passos importantes para colocar em igualdade de direitos pessoas que são tão portuguesas como nós.
De acordo com o programa, ao nível da imigração, o Executivo procurará dar igualdade de tratamento, particularmente nos domínios social e laboral, criar mecanismos de protecção social mínima para cidadãos estrangeiros que tenham perdido o seu emprego e reforçar a participação dos imigrantes na vida política, designadamente através da participação nas eleições autárquicas, após um período de permanência no território nacional .
De acordo, mas 20 anos, é demais.
Comentários
Desconhecia a tua participação no projecto mas, do que de ti já conheço, não é de estranhar.
São de pessoas como tu e o Fernando Ka, que se faz um país mais justo e fraterno.
Beijos.
o meu cartão de sócia está nos 20 primeiros a ser impressos e é talvez aquele de que vale a pena orgulhar-me. de qualquer modo o mérito é dele, uma pessoa que vale a pena nesta sociedade egoista, que continua a trabalhar todos os dias pelos outros, com prejuizo significativo da vida pessoal.
o motivo de o trazer aqui, é só mostrar que uma pessoa quase sozinha, em 20 anos fez muitos mais que outras com poder. mas é sempre assim, não é? é a vontade...........
beijocas
Já agora, a nacionalidade não é tudo. Falta rever, e bem, o estatuto dos residentes...
Para ti, parabéns pela participação no projecto!
pois, não será ideal, mas já permite alguma margem de manobra. permite uma coisa fundamental, reividicar. :))
não sei nada de leis, mas sei de sofrimento e que é necessário fazer o possível para o minorar.
O projecto é do Fernando, eu dei algum contributo, mais no início, depois acabei por ficar mais limitada e entretanto entraram pessoas a tempo iteiro para a ass. que trabalharam infinitamente mais.
é um projecto lindo e melhor que isso, dirigido por uma pessoa que lhe entregou a vida, espero que um dia lhe dêm o devido valor.
beijocas
e eu que conheço atraves de ti o Fernando Ka,....não sabia nada disso!
Não é justo nem para ele ....nem para mim!
Ainda bem q existe este blog para repor coisas no sitio....
:)
beijinhos
algumas, poucas.
abraço.
pois acho que nunca te contei, águas passadas....veio agora à baila pela aprovação da lei da nacionalidade.
grandes tempos aqueles, grandes lutas...que para ele continuam.
havemos de falar mais ;)
beijocas
Está aí um GRANDE homem e um excepcional ser humano ... não é qualquer um que abre mão de uma carreira promissora em prol de gente necessitada ... isso, em qualquer altura, é uma acto meritório e absolutamente digno das maiores homenagens.
Que bom vocês terem-se encontrado e poderes participar em tão bonita obra ... é apenas a prova de que as boas almas sempre se encontram ... parabéns, por isso, a ti também.
Pois, concordo, 20 anos é tempo demais, resta-nos o consolo de saber que pessoas como Fernando Ka nunca desistem ... em nome de uma causa justa e em nome de quem precisa, tudo vale a pena.
Obrigada pela divulgação e mais uma vez parabéns a todos os envolvidos.
:)
pois é, é pena que nem sempre se lhes dê o devido valor, são pessoas que não lutam por protagonismos, acabam por ser esquecidos.
mas tb é bem verdade que ele não deixa que o esqueçam, continua a moer a cabeça a quem for preciso se entender que é importante para quem necessita...
obrigada pelo elogio ;)
beijocas
é mesmo :))))))
beijinho