não, não é o Peru...




embora com proporções diferentes,

AINDA há crianças portuguesas a «coser obra» à mão. O fenómeno alastra-se por várias freguesias rurais de Felgueiras, afectadas pelo desemprego. Numa das casas, dois irmãos de 11 e 14 anos costuram, juntamente com os pais, dezenas de sapatos de Verão, para homem, da Zara. Por cada par cosido recebem 40 cêntimos. Ao fim do dia, costuram à mão entre 100 a 160 sapatos, feitos por toda a família, em condições desumanas. O trabalho penoso e repetitivo deixa-lhes mazelas nas mãos e nas costas(...)O calçado cosido à mão provém de algumas fábricas situadas entre Guimarães e Felgueiras. É transportado em carrinhas e distribuído por intermediários pelas várias casas da região. «Ao fim do dia a mesma carrinha, vai buscar a ‘obra cosida’ e, em troca, entrega mais sapatos por costurar», conta José Guimarães, dirigente do Sindicato de Calçado em Guimarães. Os despedimentos nas fábricas de calçado e de têxteis na região do Vale do Ave e do Vale do Sousa têm obrigado as famílias mais carenciadas a recorrer a este tipo de tarefas. «Ganham miseravelmente. Mas aquele, muitas vezes, é o seu único sustento», refere o sindicalista.
[Expresso]


pergunto, que é feito do Programa Integrado de Educação e Formação e do Plano para a Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil ??
imaginavam que os sapatinhos dos nossos miúdos são feitos por outros, aqui ao lado?

Comentários

"Qualquer problema simples pode ser tornado insolúvel se se fizerem suficientes reuniões para o discutir."

Primeira lei de Mitchell
PA disse…
Há muito tempo que o sei.
Não pode ser visto apenas como um problema de exploração pela entidade patronal, é acima de tudo um problema de ordem cultural, ainda extremamente enraizado,no nosso povo, nomeadamente a norte, e em especial nas zonas mais ruralizadas. Ao trabalho do campo sucede-se o trabalho fabril, no qual toda a família colabora. Um trabalho (o da cozedura dos sapatinhos) que mais das vezes é feito no "silêncio" e atrás da opacidade das paredes do lar.
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Há estudos feitos com câmaras ocultas sobre a questão em ambiente fabril e não só. Regra geral, quando há a "percepção" (leia-se, alguém pago para informar a tempo) que a Inspecção Geral do Trabalho anda por perto, os meninos "evaporam-se" da linha de montagem.
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Um mundo que de facto está a parte, Cristina, é o mundo "silencioso" dos acidentes de trabalho infantil ... normalmente, foi acidente em casa, já levam a lição estudada, para o hospital, mesmo ficando às vezes, com incapacidades temporárias e/ou permanentes.
Sou técnica superior de segurança e higiene no trabalho (TSSHT), sei um pouco do que me refiro.
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Diana F.
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PS - Daí que, no meu blog, parte das vezes afixo fotos - Infantes ! - que retratam crianças (e não só), que pelo mundo, trabalham ... e "no duro".
As lindas tapeçarias da Índia, por exº, tem as mãozinhas dessas crianças, por entre os fios dos teares.
Mundo CÃO !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
wind disse…
Como escrevo no post de cima, pois não tinha lido este, mandaram-me esta notícia por mail.
sei há muito que existe exploração do trabalho infantil, só não entendo como raio não actuam as autoridades.
beijos
maloud disse…
Comentei no post logo a seguir. Não tinha visto este.

Wind
Para fugir à fiscalização o trabalho é feito no domicílio e é pago à peça.
ananda disse…
Vi essa noticia e ainda estou chocada. Como é possível?!
Cristina disse…
Fado Alex..
é, por outro lado, "Toda a solução gera novos problemas".

beijos
Cristina disse…
Diana

tens toda a razão, nem vejo que seja possivel acabar com isso sem gerar outros dramas sociais...a mão d'obra infantil é, em muitos casos,, uma fonte de rendimento vital..ainda me lembro bem que antigamente os casais tinham muitos filhos contando não só com a morte de alguns deles (às vezes mais de metade) mas com a ajuda no trabalho e no rendimento familiar. é essencialmente, sim, um problema cultural. no entanto, há já programas de apoio às famílias, tanto quanto li, no sentido de lhes facultar o "rendimento" dessas rianças em troca da continuação da frequencia das aulas, e da formação. é pena que sejam casos isolados, ficando a maioria de fora...tanto mega investimento que se faz, não é? ficamos com a sensação que nada faz sentido enquanto estas situações existirem..

beijinho
Cristina disse…
wind

não sei se não actuam porque não querem, ou não podem ou se porque não querem ficar com "os meninos nas mãos"

beijos
Cristina disse…
anada

linda, é possível, sempre foi..

beijinhos, bom fim de semana
Cristina disse…
bea!!!

que surpresa! minha filha, espero que sejas rica e famosa depressa :))) a ver se eu mudo também :P

jinhos
Alien8 disse…
Cristina,
Antes de ser um problema cultural, é, sem dúvida, um problema económico. Essas famílias não têm outra forma de subsistir, depois da liquidação da maior parte da nossa indústria do calçado, cujos empresários agora também se vêem a braços com problemas económicos graves, que resolvem da pior maneira, porque não têm princípios nem capacidade para mais, e porque os governos vêm permitindo esta exploração, não só do trabalho infantil, como do trabalho de adultos, feito totalmente à margem e à revelia das leis laborais, qual mercado negro da produção.
Entretanto, as zaras deste mundo vão lucrando à grande, e vendem os sapatos aos que os fazem por preços muito, muito superiores a "esses" custos.
inBluesY disse…
mas não é só nos sapatos que acontece.
Rui Gonçalves disse…
De facto é uma vergonha. Conheço bem essa região e desde há décadas que alguns industriais locais e não só, exploram famílias inteiras em trabalhos pagos com miséria. Foram os colares para África, foram as calças de ganga de marca, foram os sacos de plástico e continuam a ser o calçado e roupa de marca.
Não, de facto não se trata do Perú nem da Índia, é mesmo aqui em Portugal.
Cristina disse…
alien

é um problema economico, claro, mas o que acontece é que as famílias vê isso como natural...sempre foi assim, os filhos trabalhavam para os pais, sem qualquer espécie de conflito...e agora nem vêm bem a diferença que faz serem agentes externos à família a lucrar desse trabalho...estou errada?
Manel disse…
Sugestão do http://jumento.blogdrive.com/
Despacho do Senhor director-geral do Palheiro: «Sugira-se a Balsemão que dê uma ajuda económica à família que serviu para fazer a notícia, o que, pelos números divulgados pelo Expresso, dará qualquer coisa como 200 euros diários, ou seja, 4.000 euros mensais.»
Comentário do Manel: Não é complexo, é complicado.
Alien8 disse…
Cristina,
Não estás errada, mas a questão cultural está completamente condicionada pelos problemas económicos e sociais. Sem que estes se resolvam, isto é, sem que as famílias tenham outra forma de sobreviver, não há qualquer hipótese de mudar a forma como vêem a realidade. Estão em causa necessidades básicas...
Por outro lado, parece-me haver aqui uma diferença substancial entre a situação das crianças que trabalhavam (sobretudo no campo) para os pais, a fim de ajudarem ao sustento da família (lamentavelmente era preciso...) e a presente situação, que é a da exploração de toda a família por grandes empresas, por interpostas pessoas de empresários pouco escrupulosos, e que também procuram salvar alguma coisa, embora da pior maneira.
PA disse…
Caro Alien, penso que há uma conivência perfeita entre entidade empregadora, pai/mãe e criança. É um "jogo" que "interessa" a todos (os três que referi), sob a égide da ignorância (é claro).
Por isso é tão difícil penetrar nessa realidade.
Ainda há pouco falaram no assunto na RTP.
E lá apareceu uma "criança" de 15 anos, em situação de abandono escolar, que está a trabalhar como ajudante de calceteiro. Só no Norte (Trás os Montes e Douro), foram detectados 1200 casos de abandono escolar, no último ano.
É a frieza dos números a falar.
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Diana F.
Alien8 disse…
Diana F.,
Certíssimo, tem que haver conivência, senão o esquema não funcionava. Mas à égide da ignorância anteporia a da necessidade.
O abandono escolar é uma triste consequência dessa necessidade, agravada por ideias enraízadas que, de facto, levam muitos anos a desaparecer: "A escola,para que serve? Mais dois braços a trabalhar é que fazem jeito."
Parece-me que, actualmente, se está mesmo a regredir neste aspecto. Será só impressão minha?

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