o Expresso traz esta semana
um trabalho muito interessante, com uma perspectiva diferente do trabalho infantil: Reportagem de Ana Sofia Fonseca (texto) e Jordi Burch (fotografias) no Peru, de que deixo um excerto...
[Robin abre a porta de casa.Corre para as traseiras, O sorriso radioso contrasta com o amarelo gasto da «t-shirt», «Surf» estampado, a letras cheias - já molhou os pés no mar, mas empertigar-se nas ondas é «não ter nada para fazer» que desconhece. «Isso do ‘surf’... Andam mesmo nas ondas? Porquê?» A casa de banho tem chão de terra, galinhas e patos a cirandar. Há um bidão com água, quatro plásticos impõem privacidade ao buraco que serve de sanita. O miúdo lava o rosto trigueiro, solta um sorriso: «Aqui não há banho de chuveiro. Eu disse-vos que era outro mundo» Vou contar-te um segredo: trabalho desde pequenito, pequenito, e melhor do que muitos adultos. Não acreditas? Oh, é verdade! Não tenho vergonha nem sou preguiçoso. Sabes do que é que eu gosto? De fritar empadas de queijo e de vender muitas! Acabei de fazer 12 anos, mas não tive bolo... o preço do açúcar estava muito alto. Oh, não faz mal. Perguntaste porque é que sou uma criança trabalhadora? Porque gosto de ajudar a minha mãe e porque tem de ser. No meu país não há outra hipótese. Oh, ainda não expliquei as coisas... Tenho muita responsabilidade, sou delegado nacional do MANTHOC Movimento de Adolescentes e Crianças Trabalhadoras Filhos de Obreiros Cristãos, uma instituição que defende o trabalho infantil, mas em condições dignas. Não percebes, pois não? A Europa é outro mundo (risos). Eu vivo num país em vias de desenvolvimento, onde a fome é profunda. A minha realidade é muito diferente da tua... Imaginas o que é ter fome? É sonhar com um pedaço de arroz ou assim com uma perna de frango e fingir que o estômago não dói para a nossa mãe não ficar ainda mais triste. Estás a perceber? Ou trabalhamos ou a miséria come-nos.]
acrescento,
O Perú, tem um problema grave de trabalho infantil nomeadamente em minas, o que já levou o governo a efectuar um Programa para a Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil em Mineração Artesanal vinculado à Organização Internacional do Trabalho (OIT). Os estudos efectuados mostraram que a maioria das crianças que se envolveram no trabalho de mineração frequentemente apresentam problemas de anemia, desnutrição crónica e tuberculose, pela má alimentação e grande esforço que realizam.Também se registaram casos de intoxicação crónica, pela exposição ao mercúrio líquido e gasoso. Segundo o Instituto de Saúde e Trabalho, 55% das crianças examinadas em Santa Filomena tinham alto grau de mercúrio na urina. A morte por silicose, uma doença que afecta os pulmões pela inalação de silício, é uma possibilidade latente para as crianças que trabalham nos minérios, cuja esperança de vida não supera os 45 anos.
É outro mundo, de facto....
Comentários
Deixo-te um beijo :), e as férias??
à miséria , se enfeitada, junta mais gente à causa...
obrigada, amigota. as férias estão calmas...como devem:) e as tuas?
beijinhos
em protugal existe trabalho infantil, mas ali, caramba, é outra dimensão..
beijos
vê mais alguma coisa sobre isso...
e já falaste com crianças trabalhadoras? têm uma consciencia das coisas, da vida, muitas vezes surpreendente, não subestimes..
de qualquer modo, podes sempre perguntar à jornalista se inventou, está lá o nome (que nem costumo pôr) a pensar em ti ;)
Acredito que a MANTHOC tenha as melhores intenções, atendendo ao contexto em que se insere. Só é lamentável que tenha de existir.
Aquilo que a globalização podia e pode permitir - por exemplo a correcção de escandalosas assimetrias como as documentadas no teu post - é letra morta para os Gês e companhia, e para as multinacionais que os dominam. Que tristeza!
muito lamentável...mas enfim, talvez consiga que pelo menos eles trabalhem em melhores condições, do mal o menos :)
triste, mesmo.
beijinhos
recuar em que sentido?
Confesso não ter lido o artigo todo (esta calãzisse, sabes? :)) mas, devo te dizer de que não estou assim tão certo que o "trabalho infantil", por si, seja um mal absoluto. Mal é a sua exploração, com más condições e baixissímos salários e, sobretudo, o não haver uma articulação do trabalho/escola.
Sei, por experiência própria, o que é ser "...filho dum homem que nunca foi menino", parafraseando o Soeiro Pereira Gomes. De certa forma, os meus filhos poderão dizer o mesmo. Mas, do trabalho não vem mal ao mundo. Do resto, sim.
E desculpa ser a nota dissonante. ;)