é o destino...
Há pessoas que o têm traçado; qualquer que seja o lado para onde nos viremos, o caminho é invariavelmente o mesmo, o escancarar da nossa miséria social. Isto para voltar a falar dos nossos velhos, tema tão incómodo como presente em dias de verão. Todos os anos a história se repete, todos os anos encetamos uma nova guerra inglória e extenuante com famílias e instituições que supostamente existem para ajudar: há já vários dias que as enfermarias se enchem de velhotes com vários graus de dependência em condições de serem levados para casa, mas porque necessitam de ajuda para as actividades da vida diária são sistematicamente rejeitados pelas famílias. Ninguém disse que é fácil lidar com estas situações, eu sei que a maioria das pessoas não têm efectivamente condições de ter uma pessoa dependente em casa. Mas, há atitudes e atitudes: uma coisa é assumi-lo claramente e tentar connosco arranjar soluções, outra coisa é por e simplesmente desaparecer, desligar o telemóvel, dar moradas erradas, dar as desculpas mais miseráveis para saír rapidamente de cena antes-que-sobre-pra-mim, como aliás já me foi dito algumas vezes, ou arrematar a questão com um lacónico o estado que tome conta dele/a, que eu tenho a minha vida....
É legítimo que quem trabalhou e pagou impostos durante vários anos aspire a que o estado seja mais eficaz- já não se pede tão eficaz como o foi a receber, mas pelo menos que se preocupe em parecê-lo- que mostre pelo menos a intenção de, ainda que seja só um fazer de conta. Mas nem isso, a ajuda é escassa, tardia ou inexistente e quando vem é com um sabor amargo de favor depois de ultrapassados vários entraves burocráticos, marcações de entrevistas, formulações de pedidos vários, papéis, declarações de incapacidade devidamente autenticadas com pelo menos 10 carimbos, deslocações e infindáveis horas perdidas. As razões evocadas são sobejamente conhecidas: há falta de pessoal para ajudas domiciliárias, não há dinheiro, não há vagas em lares, não há lares, não há isto não há aquilo...recomeça-se, tenta-se mais tarde, volta-se a tentar que a família se organize para ajudar, percebemos que já não vem ninguém, volta-se a fazer a ronda dos serviços sociais até à exaustão, até encontrar um buraco onde um dia, não muito longe, tudo há-de acabar. Com pouca dignidade e nenhum afecto. Há de facto pessoas com o destino traçado...

Comentários

Manel disse…
Mais uma vez a colocar o dedo na ferida, como quem tão bem conhece de perto muitas situações dramáticas.
Esta sociedade de consumo imediato, coloca os velhos para a prateleira dos monos improdutivos.
A minha velhice é já amanhã e disso e tenho certeza.
É o tempo de dar lugar aos velhos.
wind disse…
É uma terrível realidade.
Nem o estado, nem certas famílias, têm estruturas para ajudar aqueles que já um dia trabalharam, pagaram impostos, foram úteis, foram pais, e agora se tornam um peso.
Não nos podemos esquecer que muitos de nós podemos lá chegar e pode-nos acontecer o mesmo.
Há que alertar para estas situações!
beijos
Francis disse…
é o nosso caso,se e quando, lá chegarmos.
Cristina disse…
manel

é verdade. é obvio que nem sempre as familias podem ficar com eles, o que me incomoda é a atitude!

bom, mas ainda há familias que escolhem o lugar onde os velhos hão-de ficar, perto de casa,de facil acesso para eles, etc...poucas, mas há.


beijocas
Cristina disse…
wind

vamos lá chegar! espero. quem tem filhos, espera sempre o apoio deles, monetário ou não, o que muitas vezes nem é o mais importante.
quem não tem, o melhor é salvaguardar a situação enquanto pode.

bejinhos
Cristina disse…
dakidali

francis


lá chegaremos...é melhor decidir essas coisas antes, com a familia ou sem. se se tiver pachorra para tal..

beijocas
antes de mais, uma flor para ti Cristina. pelas palavras, pela humanidade que se respira nas tuas palavras. mas também pela amargura que lá se sente, a quase impotência de se querer fazer e de se "esbarrar" quase sempre com uma porta fechada.

agora um sorriso.

sim, um sorriso porque também há quem não desligue os telefones e se preocupe e esteja lá.

refiro-me aos meus pais, em particular à mãe, que "abraçou" há cerca de três anos o destino dos seus pais (97 e 91 anos) e os tem em casa e deles trata, todos os dias, com o mesmo amor, ternura, carinho e cuidado com que tratou de nós, os filhos.

achei que as tuas palavras mereciam este meu abrir "de porta".

só, espero, um dia, estar 'à sua altura'.

beijocas ternas.
maloud disse…
Infelizmente vai havendo de tudo e quase tudo é mau. Filhos que abandonam pais que sempre lhes foram dedicados, e pais que usam e abusam da chantagem afectiva de forma despudorada. Quem tiver meios económicos pode defender-se atempadamente de situações degradantes, agora quem os não tem fica sempre à mercê da caridadezinha. E ela é tão aviltante.
Beijocas
Cristina disse…
rosalina

o mais constrangedor é que de facto temos que fazer os possíveis para as pessoas saírem, sob pena de não haver lugar para internar as situações mais graves e prioritárias que vão surgindo todos os dias. o que estas pessoas necessitam é tão só que tomem conta delas, que lhes prestem cuidados e lhe dêem conforto e carinho e isso não deve ser feito num hospital de doentes agudos, mas em regime de cuidados continuados. uma ilusão...
mas que às vezes apetecia transformar aquilo em lar apetecia.

enfim...sorte têm os teus em ter a família que têm...:)))

beijoquitas lindona.
Cristina disse…
maloud
tem razão, felizes dos que podem tratar do assunto atempadamente.

e situações como as que descrevem também existem, eu sei e conheço :))

mas a maioria nem dá aos pais essa hipótese ;)


beijos
Rui Gonçalves disse…
Sem dúvida minha cara. Leia no meu blog o post "Anjo da Guarda" e verá o que é sentir na pele o cuidar dos que nos deram a vida.
Anónimo disse…
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