a culpa é da televisão



Incríveis, as voltas que os pensamentos dão. Aqui sentada com uma programação televisiva entediante à frente, dei comigo a pensar no horrível desastre aéreo de há dias, no Brasil. Não nas circunstâncias, ou nas causas, ou nas implicações politicas do timing do discurso de Lula, não.
Passou-me de repente pela cabeça a ideia de estar a segundos de morrer e o medo da morte. Será que se sente medo? desespero? exploram-se quaisquer possibilidades por infimas que sejam de escapar ao fim? pensa-se na familia, nos amigos, em que se pensará?
Falar de morte pode parecer mórbido, principalmente porque representa um mito e um tema ao qual nos esquivamos como o diabo da cruz mas, é também um desafio, falar sobre algo em que habitualmente evitamos pensar. Esses, os últimos minutos de toda aquela gente, são daqueles momentos, penso, em não dá para fugir....medo, certamente -não acredito que não se sinta medo- mais ou menos acompanhado de descontrolo emocional, de ansiedade, dependendo da maturidade psicológica, de convicções religiosas, ou outros amortecedores emocionais. mas...será que em qualquer dos casos chegará a haver algum momento de paz, de entrega ao inevitável? ou pelo contrário, qualquer forma de auto-controlo é ineficaz e o terror inevitável?
Pois não consigo imaginar, gostava de pensar que sim, que a partir de determinada altura conseguimos desligar o interruptor e partir, simplesmente. Não sei.
Também não sei qual o interesse de pensar nisso neste momento, ou de vos pôr a pensar nisso, mas agora já está.

...vocês têm medo da morte? não do "como" nem "de quê", mas do "quando"

Comentários

Anónimo disse…
Medo?..claro que não..e, olha que um dia destes vamos ter todos que morrer..(porque então não
falar da morte? :-) )penso que como tudo na vida também se deve aprender.. :-)

abraço (não tenhas medo que não é o abraço da morte ahahah )

intruso
Animal disse…
tenho um certo receio de morrer sentado na retrete. deve ser um bocado destrutivo da imagem de elegância e coolness que levou uma vida inteira a construir...

ou isso ou morrer a trabalhar. também não acho nada bem.
Pêndulo disse…
Afinal a que restaurante foste ? É que às vezes ando por aqueles lados e já vi que a comida é indigesta.

:P
Unknown disse…
eu sou mais do tipo james dean... live fast, die young and leave a beautiful corpse!
MariaTuché disse…
Medo não sei se é a palavra certa, mas desde que sou Mãe que penso que quero morrer bem velhinha.

Beijooooooooooooo amiga e boa semana
Eric Blair disse…
Eu cá espero morrer saudável, que é para não doer muito.

ps.(r) entretanto vai preparando a Toga.
Uma questão delicada.
Vou dividir a respostas em três fases.
Já tive dois acidentes aparatosos de carro.
Havia em tempos um anúncio que terminava com a explicação do acidentado dizendo “foi tudo muito rápido”.
É verdade, não me lembra de nada, começou e acabou tudo no mesmo instante, não consegui pensar em nada, se tivesse morrido nem um adeus tinha conseguido dizer.
Claro que há desastres que terminam em mortes que serão completamente horrorosas porque há tempo enorme, para se perceber que vamos morrer.
As caixas negras (que são laranja) e que registam os últimos trinta minutos no cockpit têm momentos de puro horror.
Ainda que seja uma expressão banal, é curioso que em quase todos os casos se implora por Deus e num dos casos (Egypt Air) sejam feitas rezas a Allah.
Lembro-me de um acidente com um Jumbo da Japan Air Lines que demorou mais de dez minutos até de despenhar contra uma montanha.
Tiveram tempo para tudo, até para escrever às famílias.
Neste, mais recente, houve de tudo inclusive telefonemas para a família (dos que morreram no edifício atingido).

Outro ponto de vista completamente diferente é quando começamos a entrar no declínio da vida.
Por mim e presumo que ainda estou um pouco longe, estou em completa paz e aguardo com serenidade a minha hora.
Tenho talvez uma ligeira pena de perder tantas maravilhas tecnológicas que irão surgir nestes tempos mas é como tudo, houve um tempo para viver há outro para morrer.

Situação completamente diferente é adoecermos e sabermos que é irreversível.
Deve ser pavoroso saber o dia anunciado.
A minha namorada é visitadora do IPO e sente um nó na garganta quando vê crianças a caminho da morte.
Mas sobre isto quem melhor para falar do que a própria Cristina.
batuta disse…
O medo da morte poderá ser o medo, natural, do desconhecido.
A morte não existe, em boa verdade. Existe uma separação de nós de um corpo físico, no qual habitámos por uns anos.
A partir daí, é um recomeço.
Animal disse…
era fixe que nos entregassem um cartão de crédito platinum (com um plafond exorbitante) à entrada desse tal recomeço. :-)
Anónimo disse…
O que me assusta verdadeiramente na morte é deixar de conviver com as pessoas que amo, o que infelizmente começou a acontecer muito cedo na minha vida. Quando penso na minha morte, situações de sofrimento prolongado é o que mais temo. "Quando"... ainda é cedo!
Rosa disse…
Eu tenho medo da morte, porque prezo imenso a vida. E, nesse sentido, tenho medo do "quando", mas também do "como" e do "de quê".
PA disse…
Tenho assistido a algumas formas de enfrentar a morte. Umas com pré-aviso, outras não.
Imagino a Cristina, como médica ...



Da morte, não tenho medo.
É um estado.
Oposto ao de estar vivo.

Tenho é medo de sofrer, até dar último suspiro...

Seria incapaz de me suicidar.
Não, porque às vezes não me apeteça fugir de mim própria.
Mas seria incapaz, entre outros, por medo da dôr física.
Sou cobarde ? Sou.
E deste ponto de vista, quero continuar a sê-lo, por muitos anos.


Não esqueço uma frase de João Amaral (ex-PCP, deputado da AR, e vereador na CML), algum tempo antes de morrer, vítima de cancro:
(mais ou menos isto ...):

"- O dia em que eu morrer é apenas mais um dia da minha vida."

Agora vou à vida .... :-)

beijo grande
Duca disse…
Não temo a morte física porque convivo com ela todos os dias como, aliás, todos nós. É, que, todos os dias, morremos fisicamente, um pouco.

Temo é a vida, por vezes, e a dor física e/ou emocional que sentimos.

A morte física é, para mim, uma forma de renascer.

Todos os outonos morrem as folhas das árvores que renascem todas as primaveras. As folhas que renascem não são as mesmas que morreram, mas têm a mesma essência.

Fazemos parte de um todo, pelo que, a nossa morte física não se dissocia desse todo.

Esta minha postura pode parecer pueril e ingénua, mas é mais complexa do que se pode imaginar à primeira vista.

Excelente tema, Cristina, só tenho pena da minha enorme dificuldade em explicar num comentário as razões que me levam a pensar na morte física como um renascimento.

Repara que para mim a expressão correcta é "morte física", ou seja, a do corpo que vejo como veste.

Não deixa de ser interessante verificarmos como a palavra "personalidade" vem do grego "persona" que significa máscara.

Beijo e boa semana
Cristina disse…
Animal

pá, tu quando morreres deixa indicações pa seres embalsamado faxavor...não há-de ser nos proximos séculos que aparece outro bicho desses ...:))))
Cristina disse…
intruso

ainda não é o abraço fatal? ahhh, folgo muito:))

tentamos sempre não pensar nisso não é? ou então pensamos demais..

beijinho
Cristina disse…
pêndulo

fui a um restaurante chamado lourenço ao lado das termas do luso e que serviu uma chanfana e frango do campo em vinho deliciosos :))
Cristina disse…
tuche

eu tenho medo do processo que me levará lá...

eu acho que não vou morrer velha, tenho quase a certeza disso...
Cristina disse…
tuche

eu tenho medo do processo que me levará lá...

eu acho que não vou morrer velha, tenho quase a certeza disso...
Cristina disse…
tuche

eu tenho medo do processo que me levará lá...

eu acho que não vou morrer velha, tenho quase a certeza disso...
Cristina disse…
Eric

ehehehe, morte súbita queres??? pá, se pedires com delicadeza arranjo-te uma :)))

e também já fui à modista, tou à espera da festa :))

outra coisa! vai preparando aí uma francesinha pra mim, ok??
tou indo...
Unknown disse…
buáaaaaaaaaaaaa.... tb quero francesinhas com boémias!!!
Cristina disse…
Fado

não falemos de crianças a morrer no IPO que ja tenho a minha dose...é a pior coisa que se pode presenciar. também não falemos de doenças porque aí, se ha alguma coisa boa é que a partir de determinada altura tu desejas morrer. nesse aspecto não é mau, é mesmo a morte desejada(a natereza é mãe...).

agora, o que eu falava, independentemente de como e com o quê, é do medo da morte em si: o pensar que podes morrer em qualquer altura aflige-te?

tenho sentimenntos ambiguos nesse aspecto. gosto da vida, gosto das pessoas, gosto daquilo que tiro dela. por outro lado, penso que ja tive o maximo que podia desejar e ja perdi. duas vezes. portanto, a partir daqui, o que vem é ganho,mais tecnologia menos tecnologia, mais passeio menos passeio, mais amigo menos amigo, é folclore dos dias...

não creio que possa exigir mais. também não quero menos..lol..e quando acabar acabou..

beijinhos
Sandra disse…
Medo não, preferância sim. Pragmaticamente falando, só vou viver uma vez, esta. Há algumas coisas que gostava de fazer antes.

Quando era adolescente achava que não me ia importar de morrer em cima duma prancha de surf numa onda minimamente razoável. Agora só discordo da data, só autorizo (tão prepotente, [tom do Eduardo Sá] tão pequenina [fim do tom do Eduardo Sá]... Lol) quando for velhota e tiver cabelos brancos e rugas como a minha avó...
Sandra disse…
i.e. preferência e não preferância.
Cristina disse…
batuta

é dessa separação que estou a falar....independentemente do que vem depois.
Cristina disse…
maria

as situa�es de sofrimento fazem-nos aceita-la e at� desej�-la. nesse aspecto nem � mau...embora o sofrimento fisico seja terrivel. mas enfim, at� isso se pode resolver..

tenho algum medo de morrer assim de repente sem poder despedir-me ou dar algumas indica�es..

espero que seja longe, isso..

beijinhos
absorbent disse…
medo tenho... mas é precisamente de nao saber o q vem a seguir! e talvez um bocado de pena... de deixar as pessoas q me fazem bem.
Cristina disse...

Compreendo cristalinamente o que escrevestes.
Vivi e tenho momentos de pura glória na minha vida e outros de grande desânimo (como todos).
Cheguei a uma altura, e ainda sou relativamente novo pelos padrões actuais, em que estou absolutamente preparados para partir embora continue a gostar de viver.
Já cumpri a missão para que fui posto no Mundo.
Desejo, mas não acredito ter uma morte a dormir.
Era o grande desejo do meu saudoso Pai, claro que não aconteceu assim.

Aproveitando este post vou fazer uma intervenção no meu blog
Anónimo disse…
Medo, muito medo..., só de pensar em aeroportos junto a aglomerações urbanas!!! :)

Eia que comentário tão politicamente (in)correcto!

Bjimho, Miùda Dòtora.
Leonor disse…
Medo sim, de uma forma mais ligeira penso eu como todos sentimos uma vez por outra porque é uma coisa que inevitavelmente nos vai acontecer.
De uma forma mais angustiada quando me foi diagnosticado um cancro e, para além de tudo aquilo que a doença nos traz e do próprio medo de não nos curarmos, ainda ficamos a pensar se a nossa vida fez sentido, se fizemos tudo aquilo que deveriamos ter feito, ou se deveriamos aproveitar para fazer aquele projecto que fomos sempre adiando ou tantas outras coisas.
Hoje em dia, e olhando para trás, acho que foi para mim um processo positivo. Vivo melhor comigo e com os outros.
Mas continuo à espera de ainda ter algum tempito...e sobretudo não quero saber o quando
Medo sim, muito. Medo de não poder dizer adeus, medo de deixar coisas por fazer. Medo.

Sempre que penso na minha morte, afasto logo o pensamento. Não quero pensar nela.

Assusta-me ficar presa a esse medo. :)
Cristina disse…
Sofia
eu tenho medo e pena. embora saiba que quando chegar a hora, o encararei como tantas outras coisas: não tem solução paciencia.
agora tenho medo de imprevistos, nunca gostei de surpresas...:)

um beijo
Cristina disse…
sandra

isso mesmo, não ha nada como sermos nós a dar as ordens :)))

beijinhos
Cristina disse…
absorbent

pois...o que vem a seguir confesso que nunca me incomodou nem foi razão de grandes pensamentos...lol. pena, muita. de não ver o desenvolvimento de tanas coisas..

beijos
Cristina disse…
Rosalina

percebo-te. eu também. embora me tranquilize de alguma forma saber que não iria tornar dramatica a vida de ninguem. também, tenho uma personalidade que funciona de forma algo estranha: se tiver que me desligar de tudo, desligo. sem grandes dramas. e em situações de aperto isso ajuda, sei que posso viver com muito pouco. espero que na morte aconteça isso tambem, que me desligue, e pronto.

beijinho
Cristina disse…
carlos

lool, quem tem c*...nessepá?

beijinhos miudo
Cristina disse…
DUCA

querida, eu não su tão optimista..lol. eu acho que quando se acaba, é o fim de tudo: corpo, espirito, alma, tudo. até agora ainda não consegui ver provas do contrario...
será que isso não acaba por ser um óptimo amortecedor para a dificil ideia do FIM??imaginarmos que não estamos de facto a acabar?

aquilo que de realmente horrivel pode acontecer, é a morte espiritual, ou emocional, e a permanencia do corpo a apodrecer em vida, isso sim.

um beijo grande
Cristina disse…
leonor

olhe só a enormidade do que vou dizer: às vezes passar por esses apertos faz-nos tão bem...quando o resultado é favoravel, bem entendido. mas é aquele tipo de ensinamento que nem 50 testemunhos dão.
eu lido muitas vezes, muitas mesmo, mais do que gostaria. e a mudança que vejo nas pessoas é extraordinaria. eu propria ja passei por isso não em mim mas em alguem que fazia parte de mim e realmente é uma concepção de vida que sofre uma volta completa. é rever valores e graus de importancia e seleccionar aquilo que verdadeiramente nos incomoda como nunca antes tinhamos conseguido.
é um aumento de lucidez brutal.

ainda ha tempos um amigo me dizia como se estivesse a perder qualidades: pá, eu ja não tenho a paciencia que tinha, eu sinto-me menos tolerante para certas merdas, só me apetece vir ate aqui e almoçar a ver o mar em vez de tar a pensar no que está pendente....

eu só lhe disse: não, tens é muito melhor noção do que é importante :))

é isso..

beijinho
Cecília disse…
Por duas vezes já, estive à beira de de ficar dentro da caixa fechada. A mesma causa - bronco-espasmo. Não tive tempo para pensar em nada nem em ninguém. Lembro-me de ter pedido ajuda, da última vez chamei a enfermeira. Acordei 20 dias depois. Desse período, recordo uma variedade de alucinações, também havia túnel mas não passava de alucinação.
Quanto ao outro aspecto, não tenho medo de morrer. Tenho, sim, muita pena. Às vezes questiono-me sobre a evolução do homem e é sobretudo isso que gostava de apreciar. Não vai dar, paciência...
Duca disse…
"será que isso não acaba por ser um óptimo amortecedor para a dificil ideia do FIM??"

Talvez o seja de facto para muita gente e até para mim. Contudo, não vejo uma lógica nesse fim de que falas. Faz-me pensar no sentido da vida e se o fim é assim, não percebo o sentido dela.

"... realmente horrivel pode acontecer, é a morte espiritual, ou emocional, e a permanencia do corpo a apodrecer em vida, isso sim."

Disso não duvido!

Beijo

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