No BodySpace.net explica-se este disco assim:.

Boa parte do percurso de Philippe Cohen Solal enquanto músico e produtor tem passado pelos sons do novo mundo, nomeadamente do Brasil ou da Argentina. Com eles tem desbravado a cultura sonora alheia em lanços certeiros promovidos pela tecnologia na certeza de encontrar matrizes que devolvam o bom-nome à arte da especulação sem que, e em consequência, o resultado seja a completa alienação dos princípios elementares com que se rege o apuro popular.
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Com The Boyz From Brazil, Solal – tal como Trüby Trio e Jazzanova no final da última década – discorria as coordenadas elementares do samba sobre a electrónica e permitia a evasão dos sons quentes sobre estruturas inspiradas na arquitectura do house ou na eloquência do jazz. Nunca foi um projecto que vingasse em grande escala ou que surpreendesse de forma arrebatadora.
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No compasso de espera nascia nova obsessão. O gosto pela música de Astor Piazzolla crescia. A necessidade de encontrar um novo perfume transatlântico que unisse Paris a Buenos Aires era uma urgência digna de ser salva por qualquer curioso interessado nos modelos e texturas que a electrónica continuava a apresentar.
A obsessão rapidamente uniu Solal e Christoph H. Müller – também seu companheiro nos The Boyz From Brazil – ao músico argentino Eduardo Makaroff. A consequência da união de facto foi retumbante e reconhecido à escala global. Com uma visão renovada e inspirada do tango,
La Revancha Del Tango apresentava-se ao mundo pela mão dos Gotan Project sem qualquer acanhamento ou sem a mínima preocupação pelo risco de fusão de dois universos esteticamente distintos.
Como quem corre por gosto não cansa, e aproveitando uma licença sabática dos Goten Project, Solal mudou o azimute e decidiu explorar nova paixão. Talvez nova obsessão, talvez novos impulsos a que a sua paixão pela música não conseguiu resistir. Só na observância desse ângulo se entenderá o motivo que o levou a calçar as botas de cowboy, selar o cavalo e rumar às terras do Tennessee para tocar serenatas à vida quotidiana sobre a luz serena de uma lua cheia. Inesperado será no mínimo o adjectivo a aplicar. Não só decidiu satisfazer o seu ego, como correr mais um risco. Um risco, diga-se, a que poucos produtores europeus se sujeitariam.
As músicas de The Moonshine Sessions são no mínimo pequenas pérolas que representam a forma argilosa como Solal encara, abraça e adapta sem preconceitos a música country. The Moonshine Sessions é em espírito uma ode à musica popular tradicional norte americana com poucas, ou mesmo nenhumas, ligações ao panorama da actual musica popular produzida na Europa, muito menos – como os projectos anteriores – um entrelaçado de sons electrónicos. A elegância destas músicas distingue-se pela formalidade com que se apresentam ao mundo. E se na mente ecoam memórias de velhos titãs – Johnny Cash, Neil Young – em busca de novos acordes, não deixará de ser interessante, e mesmo pertinente, que Solal evoque a escrita clássica enquanto os novos talentos do country local esconjuram os princípios activos do blues e da melhor white soul music .De guitarra em riste, Solal não passará despercebido, nem negará ao que se dedicou de forma conceptual, mesmo nos momentos em que descontraidamente reconstrói clássicos dos Sex Pistols (“Pretty Vacant”) ou dos ABBA (“Dancing Queen”). No seu melhor estilo, The Moonshine Sessions é um repasto tranquilizador onde a simplicidade devolve o gosto pela música simplesmente bonita.Sem contrariedades, sem excessos ou lacunas, a composição, que não abdica das profundas orquestrações, é erguida na base por ritmos discretos, sóbrios e 'swingantes' para na restante estrutura sobressaírem as guitarras acústicas e de choro, os banjos, os violinos, as harmónicas, um grupo sério de vozes – Jim Lauderdale, Shawn Camp, Melonie Cannon ou Ronnie Bowman, entre outros – e a particularidade da constante presença de fundo dos sons do campo. São diversos os momentos em que o som natureza é a única característica que separa o silêncio da melodia ou a companhia da solidão. Momentos que relembram particularmente os passeios melancólicos e nocturnos da "Madrugada Eterna" dos KLF no instante em que uma guitarra se sente abandonada no seu choro perpetuo.The Moonshine Sessions poderá não ser um disco essencial no actual panorama, mas não deixará de ser um registo com pertinência, quanto mais não seja para nos deixar deleitado com a sua beleza formal. Afinal o amor ainda ilumina as estrelas, basta ouvir "The Private Song" para ter a certeza.

Comentários

Cecília Longo disse…
Cris
fiquei encantada com a explicação e sobretudo com a melodia.
Como sempre fazes boas escolhas:)
e aprendi imenso.
Hoje tava com saudades deste doce navegar. Benditas férias.

beijokas
Francis disse…
ele há coisas...

no dia em que tivémos aqui a falar sobre a Fnac, este foi um dos albuns que comprei...já esteve a tocar na loja.

A minha preferida é a versão de Ronnie Bowman The Private Song.
Francis disse…
upssss, é a que está a tocar...sorry.

i fly away.
Anónimo disse…
Ouvi o disco todo (dois minutinhos por faixa...) na FNAC, duas vezes seguidas. 80% dele é muito bom ou excelente.
Cristina disse…
francis

hehehehe!! ja só ouves sininhos de Natal aposto! :))

beijocas
Cristina disse…
cila

nem sabia que estavas de férias...

um beijinho grande.:)
Cristina disse…
sapka se quiseres diz-me quais são as faixas de que gostas mais e eu mando-te..

beijos

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