"há sempre alguém que nos diz...". ou devia haver.

Ela foi, mas o espectáculo ficou para a história do festival pelas mais estranhas razões: não foi um bom concerto, a voz da cantora londrina estava em dia não e pairou sempre entre a plateia o tom constrangedor de quem não sabe se há-de rir ou chorar. (...)Depois, a incerteza de como reagir: com aplausos de incentivo ou assobios por fazer esperar a plateia? Meia-hora depois, a certeza de ver com os próprios olhos uma mulher que se tornou uma caricatura de si própria. É polémica, é imprevisível, é uma "junkie". Todos tinham todas estas informações sobre a voz mais premiada dos últimos tempos, mas nada podia preparar o Rock In Rio (festival certinho, direitinho, arranjadinho) para o que ela trouxe. Amy confessou que devia ter cancelado o espectáculo por causa do evidente problema vocal. Mas ela queria tanto estar ali… No lugar da Amy Winehouse de pelo na venta, surgiu uma criatura trôpega, que não conseguia cantar, tocar guitarra, nem fazer-se compreender. Disfuncional no seu vestido, que puxava para cima como num tique de timidez, trazia a mão envolta em ligaduras, escoriações no pescoço, o penteado do costume e o eyeliner a acentuar um olhar perdido no infinito. A banda num esforço contínuo para a elevar sem a abafar – e ela ali, frágil, à espera de uma brisa mais forte que a partisse mais depressa que o copo de vinho que segurava. Do vozeirão – essa qualidade que torna tudo o resto permitido – só se ouviu um sopro. Temas como "Rehab" e "Valerie" valeram pelas excelentes canções que são, mas não pela sua contribuição. Foi triste vê-la assim. Foi triste perceber que as palmas que recebia eram mais palminhas nas costas. É triste pensar que esta pode ter sido a primeira e última oportunidade de ver em Portugal esta mulher que diz não ter vergonha de cair. Será que ainda se consegue levantar?.[ Silvia Pereira no Público]
O esforço foi hercúleo.
Mas a sua determinação e vontade acabaram por tornar o espectáculo mais penoso: a voz, o seu grande trunfo, não chegava às notas; o microfone caiu-lhe da mão; chorou a cantar 'Love is a Losing Game' e as interrupções, ainda que para tentar minimizar o problema vocal, foram constantes.
Aos tropeções, enquanto bebia de um copo de pé alto, Amy ia sendo amparada pelos excelentes músicos membros da banda, incansáveis na dinâmica da mise en scène. Não houve displicência, nem folclore de diva. Amy foi até capaz de brincar com as situações mais embaraçosas, provocando a compaixão e simpatia de um público que se coibiu de apupar ou abandonar a plateia. Quase no fim, a cantora britânica pôs a mão na anca e arrancou bem para 'Rehab' e 'Me and Mr. Jones', mas nem estes êxitos lhe salvaram a noite. Tanto talento, tanta juventude, tão boas canções -excelentes argumentos desperdiçados, que acabaram por tornar o espectáculo, mais do que um freak show, um momento profundamente triste.
[ Ana Markl e Catarina Homem Marques-SOL]
Infelizmente não me foi possível estar neste que deve ter sido o melhor dia do Rock in Rio. Trabalho, pois, sexta-feira, um daqueles dias que não se troca com ninguém. Estava com uma imensa curiosidade de ver e ouvir Amy Winehouse. A medo, mas ainda assim. Não estive lá, não ouvi, mas acabo de ler a critica no Público e no Sol. Parece que o pior, aconteceu mesmo. De facto, não há nada mais triste para um artista que a perda do sentido critico, a perda da auto-estima e de qualquer réstia de dignidade. Amy devia ter alguém amigo que a protegesse deste tipo de espectáculo: uma demonstração de crueldade que ninguém merece; nem ela, nem o público.
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Comentários

Unknown disse…
Por acaso já falei com uma amiga minha que foi, e me disse simplesmente, 'foi degradante' e é 'triste ver alguém com tanto talento desperdiça-lo assim'...

Eu disse o mesmo que vou dizer agora, ainda assim podia ser pior, 'se não aparecesse!' O público iria ficar defraudado pela expectativa gorada de ver uma diva expor-se ao ridículo. O povo gosta de ver a tristeza alheia, e se for uma estrela planetária ainda mais!

Acho que devemos dar os parabéns por não ter vergonha de se expor ao ridículo, ainda para mais o caché por comparecer em cima do palco foi-lhe pago na íntegra... neste momento está ela cheia de compaixão por quem assistiu a mais um dos seus não concertos.
Cristina disse…
ai Homem, não acho nada que aceitar expor-se ao ridiculo seja uma qualidade!
é muito confrangedor para quem assiste e é de uma falta de pudor sem tamanho. é como aparecer nua em palco: é corajoso mas não sei se abona a favor da sanidade mental. é disso que se trata: acho que ja beira a insanidade, e essa, deve ser protegida da morbidez alheia. acho.

o pior é que nem sei se o que ela sente é tristeza, temo bem que não....
Cristina disse…
agora por isso.....é confusão minha ou ha alguém que faz mais um aninho hoje????
Piotr Kropotkine disse…
um grande garruço portanto...a cinquenta eurius..... pra ver uma gaja que vai lerpar mais dia menos dia....
Unknown disse…
é confusão tua! :P
Anónimo disse…
Minha querida, também não vi ao vivo, vi o directo na Radical e devo dizer-te que, não estando à espera de a ver na sua melhor forma (aliás, depois daquele atraso, já nem sequer estava à espera de a ver, quer na melhor quer na pior das formas), por duas vezes fiquei com lágrimas nos olhos por ver o que aquela menina-mulher poderia ser e o potencial que desperdiça.
É uma luta desleal, de facto, que desgraçadamente não me parece que vá vencer.
Beijo
Anónimo disse…
E, se ela for possuidora de um carcinoma na garganta? (isto é veneno, é só uma tentativa de pôr as pessoas a pensar)..

um abraço

intruso
Lola disse…
Cristina mais linda,

Vi uma pequena parte do que se passou no telejornal, e as betinhas todas a comentar...

É degradante. A Amy devia manter os CDs e acabar com as aparições em público.

Mas quem patrocina este tipo de shows sabe que tem público.

Beijinhos grandes
Anónimo disse…
Cristina,

Confirmaram-se as suas previsões do posto editado no dia 21-05.

JMC

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