Parabéns à Vanessa!


Vanessa Fernandes brilhou esta manhã em Pequim. E digo isto sem qualquer ponta de ironia! Quem pense que a medalha de prata pode saber a pouco, equivoca-se e não tem o mínimo de conhecimento do desporto de alta competição, e muito menos do triatlo, um dos mais exigentes física e mentalmente!
As expectaticas estavam altas, mas ao contrário de muitos que cantam de alto, antes de lutar pelo poleiro, a Vanessa manteve a sua humildade, prometeu luta e lutou, hoje viu-se que lutou mais contra ela do que contra as outras adversárias! Qualquer atleta de alta competição sabe que quando se disputa um título que pode valer uma vida, há concorrência que pensa exactamente o mesmo. A Vanessa sabe isso, a sua equipa técnica sabe isso, e por isso avisaram desde o início, a Vanessa é uma das favoritas, mas há outras a ter em conta. A australiana Emma Snowsill era uma das adversárias, mas havia mais e houve muitas que eram apontadas como favoritas e nem perto das medalhas chegaram!
O que quero com isto dizer é que a Vanessa ainda tem margem de progressão. Há quatro anos em Atenas, com apenas 18 anos terminou esta prova em 8º lugar, salvo erro. Agora, aos 22 é medalha de prata. Londres em 2012, aí sim, se nada de extraordinário acontecer, será ouro. E isto, sim, é um resultado lógido de um planeamento metódico, de treinos de competição, do que come, quando come, o que bebe, exames regulares, sem esquecer o acompanhamento médico regular. Isto e muito mais é o que se esconde por detrás da preparação de qualquer atleta de alta competição!
Portugal não tem mentalidade para preparar atletas de alta competição. Há pouco tempo - na sexta feira passada - o diário Público criticou um treinador por este ter aberto as hostilidades na procura de culpados pelo falhanço que está a ser a presença nacional em Pequim. Há que perceber, que enquanto o COP - Comité Olímpico Português - a Secretaria de Estado do Desporto e muitas federações não apostarem no profissionalismo dos atletas, em preparar ciclos Olímpicos e apostar na formação - facto primordial - nunca Portugal vai conseguir resultados de excepção, seja nos JO ou em Campeonatos do Mundo ou da Europa. E terá sempre de se contentar com os predestinados que surgem à média de um por geração! Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Rui Silva, Vanessa Fernandes.
Voltando um pouco atrás. Dos vários desportos que acompanho, o triatlo, será talvez, aquele do qual tenho mais informações. E por isso posso de cabeça desfiar os vários títulos e pódios em Campeonatos Europeus e mundiais ao longo dos últimos 10 anos, principalmente em juniores, o problema chega quando se ascende à elite, e a motivação começa a diminuir, talvez porque os incentivos para manter o nível nunca chegaram. E nem 10 Sérgios Santos chegavam para ajudar a manter estes atletas motivados e a treinar.
Tudo isto para chegar a este ponto: há quatro anos, Portugal teve uma vaga na prova de ciclismo de montanha para Atenas. O presidente Artur Lopes não autorizou a participação de nennhum atleta português, com base em dois factores: O FPC não tinha orçamento para levar o atleta a Atenas; e o segundo porque não havia nenhum atleta com nível internacional para representar Portugal, numa prova onde apenas participam os 40 melhores do mundo. Quanto ao segundo ponto concordo com o Artur Lopes. Quando ao primeiro argumento, obviamente que este senhor tentou enganar os portugueses, já que as deslocações e estadia de toda a comitiva para qualquer Olimipiada é suportada pelo COP, sejam 3 atletas ou 1.000.
No entanto, esta 'filosofia' agrada-me e sou obrigado a concordar com ela. Dois exemplos práticos que chegaram destes JO. Uma reportagem da RTP entrevistaram um atleta que foi eliminado no apuramento. Nem me perguntem quem era, ou que modalidade pratica porque não faço ideia. Quando ouvi a desculpa dele ao jornalista, desmanchei-me a rir para não chorar, e passo a citar de cabeça o que este 'atleta' disse: "epá, as provas para mim deviam começar às 6 da tarde, porque não estou habituado a competir às 10h da manhã!" E se com isto está tudo dito, então com esta segunda declaração de outro atleta que terminou em 33º ou algo do género diz tudo: "Estou muito satisfeito com o que fiz hoje, porque tirei quatro semanas de férias para treinar e me preparar antes de vir para aqui, e não consegui treinar um único dia"!
Minha gente, não culpo estes atletas, sendo eles amadores, fazem o melhor que podem, mas com estas condições, é óbvio que só podem a aspirar a modestos resultados! Querem resultados como os da Vanessa? Perguntem ao Sérgio qual é o orçamento anual dos programas de treino dela? Antes de ir para Pequim, ela esteve a treinar em altitude num Centro de estágio nos Pirinéus. Se for no que estou a pensar, que pertence a um reconhecido ex-ciclista francês, as diárias assemelham-se a um hotel de cinco estrelas...

Portanto, mais uma vez:
PARABÉNS VANESSA, SÉRGIO E TODA A EQUIPA DE TRIATLO PORTUGUESA!

Comentários

Cristina disse…
tens alguma razão nos problemas que apontas, claro. mas penso que um dos motivos de indignação tem sido alguma falta de humildade. uma grande parte deles quase se assumiram como candidatos às medalhas (ou assumiram-nos, sei lá...) mesmo tendo consciencia das falhas e do desnivel com os outros (têm?).
Obikwelu pediu descilpas. porquê? porque portugal pagou a ida dele e não atingiu o que se pretendia. disse-o. os outros, mesmo tendo sido pagos para participar neste evento, nem um agradecimento, só criticas.

assim: se um gajo acha que não tem condições, ou não fica satisfeito com participações modestas, fica em casa. mas não, todos quiseram aproveitar a viagenzinha...

pá, istou tem pano pras mangas dos chineses todos..
Cristina disse…
ahhhh deixei aí a campeã, pra não nos esquecermos da cara dela :)
Unknown disse…
lol, eu sabia que tu colocavas uma foto dela! não tive muito tempo, o que escrevi foi à pressa e deve ter algumas calinadas, fruto de um ano por Madrid...

Quanto ao teu comentário, óbvio que muitos foram na onda do turismo! China, 'epá nunca estive, nunca vou conseguir pagar uma viagem dessas, e como o director do clube cá do bairro até diz que tenho jeito para jogar à malha, vou treinar um pouco para garantir os mínimos, e China cá vou eu!'

Basicamente é isto!
tenho jeito para jogar à malha, vou treinar um pouco

É capaz de não ser boa ideia.
Segundo dizem um dos dirigentes do remo impediu um treinador de ir e foi no lugar daquele.

Por isso o melhor é treinar para dirigente!
Pêndulo disse…
Muito bem escrito e bem comentado. Nada a acrescentar.
Unknown disse…
Treinar para dirigente... hummm, parece-me boa ideia!

De preferencia para dirigente do COI!
Cristina disse…
desi

eu gosto de fazer isso. e se não te importas, ta feita a sociedade :))
Cristina disse…
fado

loooooolada!!! muito bom! acho é que ja ha candidatos demais para esse curso. fora os que ja o acabaram , fizeram mestrado e doutoramento...
Cristina disse…
desiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!

que cara é essa???? tás amarelo esverdeado, foi alguma coisa que comeste??
Cristina disse…
ainda sobre apoios, não resisto a deixar aqui o que escreveu o Alexandre Inagaki no "Pensar enlouquece"

Eu me lembro dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, quando o corredor braziliense Joaquim Cruz ganhou a medalha de ouro na prova dos 800 metros rasos. O país todo celebrou a conquista inédita, esquecendo do fato de que Joaquim, tal qual diversos outros atletas brasileiros, havia se tornado medalhista olímpico por sua própria conta e risco. A vitória de Cruz foi um triunfo pessoal, construído à base de muitos sacrifícios e treinamentos em Utah, EUA, custeados graças a uma bolsa oferecida por uma universidade local. Não me esqueço de que, um dia após a vitória de Joaquim Cruz, a Globo quis lhe presentear com uma casa própria, devidamente recusada pelo atleta, que prontamente questionou: "Por que não me deram uma casa no começo da minha carreira, quando eu realmente precisava de uma?".
Os anos se passaram, mas há certas coisas que não mudam neste país. Quando um brasileiro vence, torna-se orgulho nacional e a conquista é compartilhada por toda uma nação. Porém, quando esse mesmo atleta sai de mãos abanando da disputa de um pódio, é tachado de "amarelão" e vira motivo de comentários genericamente depreciativos, bem ao estilo das piadas que há anos são feitas com Rubens Barrichello, duas vezes vice-campeão de Fórmula 1. Quando um brasileiro torna-se campeão, pouco importa que sua carreira tenha sido construída no exterior, como nos casos de Joaquim Cruz e César Cielo Filho, vencedor da prova dos 50 metros rasos nas piscinas de Pequim 2008 e que treina há anos na Universidade de Auburn, no Alabama. Afinal de contas, estes medalhistas representam "todo o nosso país", certo?

Errado. O Brasil é um país de torcedores chorões que adoram reclamar do desempenho de nossos atletas, quando deveriam focar suas críticas em dirigentes incompetentes, ausência de políticas de planejamento a longo prazo e políticos que só aparecem quando surge um medalhista olímpico na tela da TV. Esse bando de reclamões consegue me deixar quase tão irritado quanto certas transmissões televisivas que botam câmeras nas casas de parentes de atletas e só conseguem flagrar declarações pífias de tias e avós lacrimejantes, um recurso tacanho que virou clichê insuportável.

Sim, eu fico emocionado quando revejo no YouTube o vídeo com o Hino Nacional Brasileiro sendo executado durante a cerimônia de premiação, embora eu não consiga me acostumar com a versão que é tocada atualmente, apenas com a primeira estrofe e os últimos versos, cortando-se todo o restante. E fiquei mais do que feliz com a conquista admirável de César Cielo, a primeira medalha de ouro de toda a história da natação brasileira. Mas que fique bem claro: como bem ressaltou Flávio Gomes, esse ouro "caiu do Cielo". Não foi mérito do COB, da CBDA ou do Ministério dos Esportes, muito pelo contrário. Como bem destacou o pai do nadador na entrevista que concedeu à ESPN Brasil, essa vitória é um mérito muito maior da família de um atleta abnegado, que aos 21 anos abdicou de baladas e namoros a fim de se concentrar em treinamentos espartanos nos Estados Unidos, longe do país que hoje celebra uma vitória essencialmente pessoal.
Vale a pena lembrar que a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, que certamente custeou a ida de muitos dirigentes para Pequim, não pagou os ingressos para que a família de César Cielo Filho pudesse assistir à sua vitória. E que, como informa o blog de Mauro Cezar Pereira, o campeão dos 50 metros rasos perdeu o patrocínio dos Correios porque optou por treinar fora do Brasil. Agora que Cielo Filho é campeão olímpico, certamente choverão ofertas generosas de patrocínios. Contudo, é preciso recordar o tapa que Joaquim Cruz deu na cara de todos os pachecos patriotas em 1984: na hora em que os atletas mais precisam de apoio, dinheiro e condições para treinar, quem aparece para ajudá-los a pagar as contas?
Anónimo disse…
Há uma coisa que me deixa parva nisto dos jogos olímpicos. Para quê mandar p`ra lá 77 atletas, a maior participação de sempre de Portugal, que depois não ganham nada e ainda arranjam desculpas parvas como aquela que disse que foi descriminada/prejudicada pelo árbitro duas vezes(não me lembro do nome). Não era melhor mandar só dez ou vinte que tivessem mesmo possibilidade de ganhar alguma coisa?

Quanto à Vanessa, é a maior! Em 2012 esperamos pelo ouro!
Anónimo disse…
Parabéns a todos os que divulgam essas pouca-vergonhas...

Parabéns à Vanessa! Ela já nasceu atleta! São os "génesius"...Sim é verdade que é preciso treinar e muito.

Tino.
Vou voltar a contar uma história.

Um dia uma regata em Inglaterra, no tempo da Rainha Victoria foi ganha por um barco francês.
E então a Rainha perguntou a um almirante quem tinha ficado em segundo.
Resposta do mesmo:
Ma’am não há segundos lugares!

Vanessa Fernandes ganhou a primeira medalha para Portugal, no caso um segundo lugar quando parecia pela quantidade assombrosa de provas que tinha ganho que o primeiro lugar era garantido.
Mas não foi.

Fez uma preparação caríssima onde nada faltou, estágios em montanha e toda a série de mordomias que fazem parte da alta competição.
E agora, quentinha com a medalha, botou a boca no trombone e desatou a falar mal de muita gente.

Como já tinha aqui previsto, estas olimpíadas vão ser o Saltillo do tempos modernos.
Cristina disse…
assim apareça outro Antonio Boronha :))
Unknown disse…
Fado,

em relação à preparação da Vanessa, posso-te garantir que as mordomias para ela são um luxo desnecessário. A elite do triatlo mundial tem uma forma muito distinta de encarar este desporto. Muito espartana! Para eles os luxos são uma forma de desconcentração.
Unknown disse…
Cris,

don't worry! Não comida nada estragado. É a minha fase anarca... outra vez... deve ter sido da lua cheia!

A foto é uma imagem pop, quase wharoliana, de cristo com a frase kill your idols, muito fase nos anos 90, já que foi usada numa t-shirt por Axl Rose, vocalista dos Guns n' Roses.

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