e eu que pintei as madeixas de castanho-claro.
A imagem assalta-me a memória frequentemente em momentos como este, entre uma e outra coisa, em que não penso em nada em particular. Lembro-me daquele instante, como se estivesse num filme. Na rua, num dia igual a tantos outros, saía sozinha do supermercado e virei à direita no sentido da escadaria que comecei calmamente a subir. À minha frente seguia uma mulher de aspecto vulgar, uns quarente anos, talvez, nem bem nem mal vestida, cabelo meio grisalho, baixa e de passos apressados. Passou por mim imediatamente atrás de um menino de 5, 6 anos, não mais. O menino coxeava enquanto fazia um esgar de dor, o que o fazia atrasar-se e, consequentemente, interromper com frequência o passo apressado da mãe. À medida que se aproximava dele, a mulher fazia uma expressão de enfado, e, num gesto brusco, dava-lhe um empurrão que acompanhava com um "anda prá frente", seco e agressivo.
E o menino lá seguia, aos tropeções, com o ar conformado de quem não está habituado a melhor. Comecei a achar que a vida está realmente toda errada. Parecia-me estar outro lugar que não ali, num outro corpo que não o meu e as pessoas passavam como personagens num filme. Lembro-me, como agora, que só queria não sentir o que senti naquele momento.
Eu não queria sentir tanto.
Comentários
E eu que não sou de lágrima fácil...
Cada vez se vê mais os adultos frustados a desabafarem no elo mais fraco, as crianças.
Este acto de puxar arrastando os garotos é cada vez mais banal.
A sociedade moderna cria uma pressão sobre os casais e entre eles que a maioria não tem capacidade mental e moral para resolver.
Fico sempre muito triste quando vejo isto.
Labels: Belissimo Texto
Abraço *
Foi o que eu fiz quando vi mais ou menos a mesma cena.
Uma mãe arrastando e sacudindo o braço de um miúdo muito pequeno e com uma deficiência...intercedi:
A senhora desculpe mas não pode tratar assim a criança...não vê que ele não consegue andar???
Resposta:
Meta-se na sua vidinha!
E vira-se para o miúdo dá-lhe um estalo e diz: Toma lá e deixa-te de fazer de anormal"!!!
E lá foram.
O miúdo afinal não era deficiente estava a brincar....:)
E eu ...voltei à minha vidinha!!!
e ele ainda apanhou um estalo por minha culpa!
xx